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20 de Abril de 2021 às 18:20

Governo alimenta racismo

Ao não proteger, ao manter a discriminação e a segregação a que estão sujeitas largas camadas da população o Governo Costa tem, de facto, alimentado o racismo.

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Em artigo no jornal O Sol o conceituado arquiteto José António Saraiva acusa o governo de António Costa de alimentar o racismo. Não poderíamos estar mais de acordo. Infelizmente não pelas razões aduzidas pelo antigo diretor do Expresso.

 

Afirma Saraiva que o racismo é residual em Portugal e que dele falar apenas contribui para o exacerbar e promover. E que tudo o que o Governo fizer para o combater apenas pode criar racismo onde não existe.

 

Tese tão absurda cai pela base quando sabemos quem habita as favelas e os bairros periféricos, quando sabemos quem estuda nas universidades (e quem não estuda), quando sabemos quem são os alunos que podem seguir as aulas à distância (e os que não podem por falta de equipamento, eletricidade, ligação à internet). Tese tão absurda cai pela base quando conhecemos as histórias de vidas de tantos e tantos negros, ciganos e outras minorias racializadas. Tese tão absurda cai pela base quando abrimos os manuais de História do ensino oficial e vemos como são descritas as populações africanas, e como encontramos referências aos contributos para a nossa História dos afro-portugueses ou dos portugueses ciganos. Tese tão absurda não merece que se perca muito tempo com ela.

 

Esta tese é o que o economista alemão Albert O. Hirschman descreveu no seu livro "A Retórica do Conservadorismo" como a tese da perversidade, i.e. a argumentação de que qualquer ação que vise remediar um mal social apenas leva a piorar a situação. Hirschman explicou que este tipo de argumento não tem qualquer racionalidade, nem assenta em estudos empíricos, e que se trata apenas de uma desculpa para manter as coisas como estão. Demagogia barata, pois, afirma Hirschman.

 

Então como podemos estar de acordo com Saraiva quando afirma que o Governo alimenta o Racismo? É que o Governo Costa nada fez ao longo destes anos em que se mantém no poder para reverter a situação de racismo institucional e individual em que Portugal se encontra mergulhado.

 

Nem uma simples medida para alterar, combater ou minimizar o racismo, pelo contrário, em clima de pandemia o Governo tomou medidas que agravam a situação das pessoas racializadas.

 

Desde logo porque muitas são trabalhadores essenciais que continuaram as suas tarefas em modo presencial arriscando a vida todos os dias e pagando o preço da doença e da morte. E não esqueçamos que quase tudo o que é indústria, incluindo a construção civil, foi decretada essencial (mesmo quando, evidentemente, não o é).

 

Mas também porque o desemprego e a desproteção social atingem muito mais as populações racializadas do que as outras. E o Governo decidiu não apoiar as populações mais desprotegidas.

 

Ao não proteger, ao manter a discriminação e a segregação a que estão sujeitas largas camadas da população o Governo Costa tem, de facto, alimentado o racismo.

 

É tempo de mudar de rumo.

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