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24 de Janeiro de 2017 às 19:23

Trump e os factos alternativos

O estilo é o homem e a obsessão de Trump em impor "factos alternativos", na expressão da sua conselheira Kellyanne Conway, é um traço essencial do populismo conservador do Presidente. 

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Simbolicamente, na primeira declaração na Casa Branca, o secretário de imprensa, Sean Spicer, acusou os jornalistas de "reportarem de forma errónea e deliberada" a repercussão da tomada de posse que, segundo afirmou, mobilizou o maior número de sempre de norte-americanos e teve audiências recorde em todo o mundo.

 

Conway reiterou posteriormente as declarações de Spicer, refutadas por entidades públicas e todos os órgãos de informação, declarando que o porta-voz recorrera a "factos alternativos".

 

Para o Presidente e os seus, um facto objectivo de nada vale e ao longo de toda a campanha eleitoral Donald Trump mentiu sem pudor e somou declarações contraditórias.    

 

Do executivo de Trump, à semelhança de qualquer outra administração republicana ou democrata, é de esperar meias-verdades, afirmações dúbias, omissões e mentiras.

 

No trato com os eleitores através da comunicação social e por via de redes sociais, publicidade e propaganda, assim como nas relações internacionais, a distorção de factos e insinuações é moeda corrente.

 

Trump, contudo, fez carreira mentindo sistematicamente acerca dos factos mais corriqueiros numa estratégia de contestação aos poderes e interesses estabelecidos, aos media e à intelectualidade conivente com o antiamericanismo da oligarquia corrupta.

 

Como todo o mentiroso nato e desbocado, Trump acredita aparentemente em algumas das suas mentiras.

 

Num encontro segunda-feira com líderes republicanos e democratas do Congresso Trump voltou a afirmar que só perdeu a votação popular para Hillary Clinton, que arrebatou mais 2,9 milhões de sufrágios, devido a três ou cinco milhões de "ilegais" terem votado na candidata democrata.

 

A primeira afirmação do género surgira num "tweet" de 27 de Novembro, apesar de não existir qualquer base para falar na votação de emigrantes indocumentados.

 

Ao retomar esta tese peregrina num encontro privado na Casa Branca, a mentira de Trump teve fuga imediata para a comunicação social, sinal da extrema desconfiança com que o Presidente é visto por líderes republicanos e democratas.

 

Ao conceber a política como um jogo de soma zero em que personifica o verdadeiro povo americano, Trump terá de gerar vagas sucessivas de causas patrióticas que lhe garantam apoio político.

 

Inimigos e aliados de ocasião, em que se contam grande número de congressistas e governadores republicanos, irão ripostar, abertamente ou pela calada, a esta política de terra queimada.

 

A guerra contra os media tenderá a degenerar na hostilização de certas estações de TV, rádio e imprensa, ainda que a tentativa falhada de Barack Obama de ostracizar a Fox News em Novembro de 2009 tenha redundado num fiasco ao ver-se condenado pelos demais media em nome da liberdade de imprensa.

 

Um sistema democrático de equilíbrio de poderes e a arraigada tradição de liberdade de imprensa obstam a que o executivo imponha um rol de mentiras de propaganda oficial, mas a polarização política tende a reflectir-se na orientação dos órgãos de informação.      

 

Devido em grande parte às acções da direita radical e Trump, além da obstinação sectária de certos sectores liberais, a confiança do público na credibilidade dos media é muito baixa.

 

Trump tem plena consciência de que o futuro se vai jogar na imagem que conseguir projectar através dos media para ultrapassar resistências no Congresso e no sistema judicial.  

  

Está em guerra com os media para criar uma realidade alternativa e tudo isto irá pesar na descredibilização das instituições, na falta de confiança política no país e no estrangeiro.

 

Jornalista

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