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Saídas limpas e caminhos turbulentos: reinicializar Portugal!

O processo empreendedor tem ambição, dificuldade e incertezas; mas é o único que pode transformar o turbulento caminho nacional dos últimos anos numa verdadeira "saída limpa".

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Há 3 anos que a Troika e o Memorando de Entendimento são o mote da atividade política e o foco da atenção coletiva. Durante este penoso processo corrigiram-se alguns desequilíbrios importantes e inverteu-se o ciclo económico. Ao longo do percurso, existiu sempre consenso sobre a necessidade de um robusto crescimento económico, mas fortes divergências relativamente a que políticas poderão promover este ambicionado crescimento. Este debate ganha renovado fôlego com a "saída limpa" de Portugal do programa de ajustamento. Retomada a liberdade para estabelecer prioridades, urge materializar uma visão para o desenvolvimento do país. No entanto, para além do reconhecimento da importância da reforma do Estado, não tem emergido uma perspetiva clara sobre a dimensão de crescimento económico.

 

Estudos recentes têm vindo a apontar claramente quais os principais processos de promoção do crescimento económico e, em particular, do crescimento do emprego. Por um lado está bem documentado que são as novas empresas que criam a maior parte do emprego líquido. Por outro, sabemos também que, entre estas, são as empresas com capacidades muito superiores aos seus pares, em particular as empresas de elevado crescimento, que são a origem dos chamados spinoffs de alto potencial, criando um importante efeito simbiótico de desenvolvimento. Este processo é crítico para Portugal. Com um tecido empresarial frágil ao nível da produtividade,  a alteração do padrão económico do país requer novas empresas com um perfil diferente. Focar o país na criação e desenvolvimento de novas empresas com ambição, perspetiva e capacidades diferenciadoras no mercado global, parece-me por isso o desígnio capaz de alterar significativamente o nosso panorama económico.

 

Felizmente, os Portugueses não têm estado à espera de uma política clara neste sentido. Munidos de uma maior clarividência sobre as limitações do Estado, os empreendedores estão cada vez mais a criar e a desenvolver empresas com ambição global. O atual contexto empreendedor em muitas regiões do país é impressionante, reflexo de uma evolução que, embora não ainda expressiva em números, o é na dinâmica.

 

Esta dinâmica empreendedora esteve espelhada na passada semana, rica em acontecimentos protagonizadas pela sociedade civil. Em Lisboa, iniciou-se a segunda edição do "Lisbon Challenge", um ambicioso programa de aceleração destinado a "startups" internacionais; foi inaugurado o "Startup Campus", da Fábrica de Startups, um dos maiores espaços para startups da Europa; inúmeros outros acontecimentos fizeram parte da semana de empreendedorismo de Lisboa. Fora da capital, foi lançada a incubadora Startup Braga, uma parceria com a Microsoft Ventures. E, como que reafirmando a dinâmica do país, o New York Times e o The Telegraph dão destaque à empresa Farfetch. Este portal agregador de boutiques de alta costura por todo o mundo, fundado pelo Português José Neves, acaba de assegurar 66 milhões de dólares de venture capital internacional para acelerar o seu desenvolvimento global.

 

Estes são sinais positivos sobre o presente e o futuro do país e sobre o papel do empreendedorismo. Do Estado poderá não se esperar muito, mas o que venha a ser feito, se for concentrado na promoção do empreendedorismo e no apoio às empresas de elevado crescimento, estará a contribuir para o futuro do país. O processo empreendedor tem ambição, dificuldade e incertezas, mas é o único que pode transformar o turbulento caminho nacional dos últimos anos numa verdadeira "saída limpa."

 

Diretor da Católica-Lisbon School of Business & Economics

 

Este artigo de opinião foi escrito em conformidade com o novo Acordo Ortográfico.

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