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Faz sentido a Microsoft pagar $26B pelo LinkedIn? 

A aquisição do LinkedIn pela Microsoft por 26 mil milhões de dólares é o terceiro maior valor de sempre na aquisição de uma tecnológica e a maior na história da Microsoft.

O montante representa 85 vezes o EBITDA da LinkedIn, quando a média é cerca de 15. Estes indicadores confirmam o valor de mercado que as redes sociais têm hoje, com avaliações que resultam, não de receitas ou lucros, mas do número atual e potencial de utilizadores e da oportunidade para oferecer novos produtos e serviços aos mesmos. Esta aquisição da Microsoft, até agora com uma presença reduzida nestas áreas, veio assim reforçar a importância que as redes sociais têm hoje para empresas novas e incumbentes, e o custo associado à entrada nestes domínios.

 

O negócio reafirma também a tendência para a virtualização das ferramentas de trabalho. A Microsoft construiu o seu império a vender licenças de software, mas havia já sinalizado uma evolução para a virtualização das ferramentas de trabalho com o Office 365. Mas o potencial económico que representa esta aquisição requer uma alteração fundamental na sua capacidade de gerar valor através de serviços oferecidos na internet. Antecipa-se um conjunto de soluções que valorizem o conhecimento único que a Microsoft vai ganhar dos utilizadores individuais e das suas redes. É o início de um novo ciclo de convergência entre a presença digital, a rede social e a virtualização do trabalho, com serviços e produtos a partir da denominada "cloud". Como disse o CEO da Microsoft, "a junção da 'cloud' profissional com a rede profissional".

 

Apesar do grande potencial associado ao negócio, subsistem fortes dúvidas sobre o seu real valor económico. O LinkedIn irá continuar a operar de forma autónoma e com a sua estratégia, aspeto crítico porque o seu número de utilizadores não tem crescido nos últimos meses. Sendo os utilizadores o principal ativo de uma rede social deixar de crescer elimina grande parte do seu valor económico. Mas se esta é a prioridade, então não é claro em que medida é que a aquisição irá potenciar soluções inovadoras que não fosse possível de-senvolver através de uma forte parceria entre as duas empresas. Por outro lado, se a ênfase for a integração entre empresas, fica em risco o crescimento e envolvimento da rede, que deve ser a missão principal do LinkedIn, com resultados potencialmente desastrosos.

 

Assim, apesar do potencial que a aquisição representa, a pressão competitiva e as prioridades estratégicas do LinkedIn e da Microsoft não estão muito alinhadas e próximas, pelo que será muito difícil a criação de valor económico a partir destes $26B. A opção mais interessante seria a Microsoft comprar o Slack, que junta num único serviço uma rede social interna, blogues e interação rápida através de canais e mensagens, e que tem na sua génese a produtividade e soluções empresariais e de trabalho. Penso que a combinação entre o Office 365 e o Slack permitiria construir um negócio e soluções verdadeiramente inovadoras, que permitiriam à Microsoft criar a sua própria rede social.

 

Comprar já feito e maduro, como aconteceu com as aquisições que a Microsoft fez da Nokia, do Skype e agora do LinkedIn, pode parecer mais seguro do que construir do zero. Mas, neste mundo virtual de incerteza e mudanças rápidas, uma visão e aposta clara de crescimento que começa pequena e tem um grande potencial de crescimento pode ser ainda mais poderosa.

 

Diretor da Católica-Lisbon School of Business & Economics

 

Este artigo está em conformidade com o novo Acordo Ortográfico

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