Talvez por isso muitos se comportem como Groucho Marx no fantástico "Uma noite na Ópera". Nele, recorde-se, Groucho está a jantar de forma requintada quando um criado traz a conta. Ele olha para o papel e exclama: "Nove dólares e 40 cêntimos? Isto é um ultraje!" E, nesse momento, passa a conta para a sua companheira de mesa, uma loira, enquanto se levanta e se prepara para sair da sala. Diz ainda: "Se eu fosse a si não pagava a conta." A questão de "quem paga a conta" atravessa a sociedade portuguesa há muitos séculos. Ninguém quer ficar com o ónus de a pagar. E todos apontam as culpas para o lado. Se olharmos para os últimos anos quem é que já levantou um dedo para dizer que era um bocadinho responsável pelas contas do BPN, do Banif, do BES, dos empréstimos da CGD, da dívida pública e de tantas outras manifestações de mãos largas quando o dinheiro é dos outros?

Por isso é que parte da classe política portuguesa é a antítese do Tio Patinhas. Funciona mais como um Donald desmiolado. É por isso que, em vez de discutir os assuntos que realmente importam, se entretém, como ultimamente a direita local, a tentar vislumbrar quando é que o Diabo apanha um voo "low-cost" para Lisboa ou faz comícios sobre a "asfixia democrática", como se estivéssemos em 1975 e os sovietes estivessem prestes a conquistar São Bento para impor a ditadura bolchevique. É por isso que António Costa pode sorrir. Com uma oposição asfixiada por si própria, bem pode ver o défice controlado e a economia a crescer. É claro que os seus parceiros também não sabem o que é despesa controlada. Basta escutar a estridente Ana Avoila a ameaçar com greves na Função Pública se o Governo não abrir as torneiras do dinheiro que não tem. Avoila acha que as máquinas do dinheiro são do seu sindicato. E que quem vier a seguir pague a conta.

Grande repórter