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O dragão entre Barcelona e o Porto

Há algumas afinidades entre o Barcelona e o FC Porto. Representam, ambos, a resistência social ao centralismo das grandes capitais, Madrid e Lisboa. Têm outro símbolo em comum: o dragão.

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Na Catalunha, Saint Jordi (não é por acaso que o Sr. Johan Cruyff deu ao seu filho futebolista o nome de Jordi) matou um dragão para salvar uma princesa e depois deu-lhe uma rosa vermelha colhida no local onde escorria o sangue vermelho do animal. Desde então os homens da Catalunha, no dia de Saint Jordi, dão às suas apaixonadas uma rosa vermelha e, em troca, estas oferecem-lhes um livro. O FC Porto, na senda do projecto que o Sr. Pedroto e o Sr. Pinto da Costa delinearam com uma visão estratégica única, encontrou no dragão o símbolo da sua resistência à hegemonia dos clubes de Lisboa. Nas últimas décadas esse projecto venceu.

Neste momento estamos a chegar, no Barcelona e no FC Porto, ao limiar de um ciclo. Antes do jogo com o AC Milan, e depois de ter perdido com os italianos e com o Real Madrid, o Sr. Messi disse: "Estão à espera que percamos para poderem dizer que o Barça acabou". Era um funeral que muitos já faziam à equipa que parecia órfã de um treinador e parecia ter perdido a frescura. Quem o dizia sonhava já com o regresso do poder do Real Madrid. Mas o Barcelona despachou o AC Milan com uma frieza monumental: 4-0. Com os golos regressou também o movimento hipnótico do seu futebol, com os seus grandes jogadores a mostrarem porque gostam de jogar à bola e porque trabalham para a ter nos seus pés. Nos seus melhores momentos, quando o Sr. Guardiola os guiava, os jogadores do Barcelona demoravam cerca de sete segundos a recuperar uma bola perdida. No fim do jogo, o Sr. Allegri, treinador do AC Milan, disse: "Eles marcaram três dos seus quatro golos quando perdemos a posse da bola". E foi assim: fácil, com os pés na bola, com pressão e com a genialidade do Sr. Messi. No final os jogadores do Barcelona poderiam ter doado rosas aos adeptos, 93 mil, que enchiam Camp Nou.

O Barcelona arriscou. O contrário do FC Porto que teve tudo nas mãos para derrotar um Málaga esforçado, mas que é pouco mais do que isso. A derrota na Liga dos Campeões é má para as contas do FC Porto e para a maior projecção de alguns dos seus jogadores, mas é sobretudo um rombo nas ambições do Sr. Vítor Pereira, que desejava entrar na restrita elite europeia. A culpa não foi do árbitro: foi do seu receio face a uma equipa mais fraca e sem os recursos futebolísticos do FC Porto. O dragão perdeu as chamas e só deitou fumo negro. Terá de se concentrar na Liga portuguesa, porque o acesso à Liga dos Campeões é hoje vital para que as contas dos clubes permitam alguma respiração. E é aí que se mostram jogadores que garantem algum encaixe financeiro. Mas esta derrota é, para o Sr. Vítor Pereira, um amargo de boca. Porque teve nas suas mãos um momento de glória. E perdeu-o.

fsobral@negocios.pt

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