Opinião
O assalto ao Palácio de Inverno
A verdadeira desvalorização interna, o pilar da política seguida nestes dois anos, vai consumar-se após o álibi do TC: transformando o Estado numa empresa privada.
O Palácio de Inverno é a nossa Administração Pública, o nosso pretenso Estado. É o palácio imperial onde repousam nos últimos dois séculos de falsas ilusões e de criação de cumplicidades partidárias e de favorecimentos económicos. O Estado era a mão amiga e o símbolo de um poder fictício.
Quando Serguei Eisenstein realizou "Outubro" e mostrou o assalto ao Palácio de Inverno na Rússia, queria mostrar o triunfo da revolução. "Abril" vai ser realizado em Portugal por Passos e pela troika. Só resta saber quem é Kerensky e Lenine nesta rodagem. O realizador vai ser um Governo remodelado como se fosse uma tropa de choque.
Os diques da revolução política, económica, social e cultural foram abertos em Portugal. Resta saber se submergem o país para sempre ou se são fonte para germinar algo no futuro. É assim que se percebe a chantagem inconcebível da UE e do FMI sobre os portugueses, como cobradores de fraque amorais.
A verdadeira desvalorização interna, o pilar da política seguida nestes dois anos, vai consumar-se após o álibi do TC: transformando o Estado numa empresa privada. O pior é que isto vai destruir a administração pública e vai manter o pior Estado: o dos compadrios e empregos partidários.
Até agora, Governo e troika não conseguiam ultrapassar os portões da casa da guarda de um Estado que cresceu como um monstro por culpa dos partidos. O Governo de Passos vai, remodelado, transformar--se no soviete dos que querem demolir a administração pública. O laboratório da revolução da troika avança agora para que depois a experiência revolucionária portuguesa possa ser alargada aos países do Sul. O assalto ao Palácio de Inverno faz-se em Abril.