Opinião
O país Harry Potter
O Governo pediu, nos últimos tempos, auxílio a Harry Potter. Refugiou-se na fantasia para escapar à realidade. Alguns chamam a isso controlo da agenda política. Outros, desnorte.
Prometeu reformas profundas, mas algumas delas foram pozinhos de perlimpimpim para iludir os problemas. Não está sozinho a patinar na maionese. Muitos já o fizeram antes, outros o farão depois. E, na sociedade portuguesa, muitos desejam ficar na história como personagens da nova versão da Terra do Nunca, ao lado de Sininho e do Capitão Gancho. Chamem-se eles Mário Nogueira ou Rui Moreira. Mas é por isso que Portugal, em vez de ter um projecto de futuro, caminha sempre de costas voltadas para o futuro. Prometem-se milagres e transformam-nos em compromissos pessoais. O problema é que os portugueses escutam isso e confundem o delírio com a capacidade de alguém se transformar num mítico Golias. Mário Nogueira (tal como Arménio Carlos) acredita que se descobriu petróleo no Ministério das Finanças. E que, de um momento para o outro, o dinheiro jorrará para os bolsos das suas clientelas. Rui Moreira vive também o seu momento Peter Pan: perante a humilhante derrota do Porto como sede para o EMA, tentou garantir a sua vitória paroquiana, porque a cidade passava a "estar no mapa". Dos perdedores, está visto.
Neste país de ilusões, que vão do nada a lugar algum, haja alguém para nos chamar à Terra. Foi o que fez Marcelo Rebelo de Sousa na Gulbenkian: "A crise deixou marcas profundas, é uma ilusão achar que é possível voltar ao ponto em que nos encontrávamos antes da crise - isso não há!" São muitas as feridas deixadas pelos anos da troika e elas são visíveis, desde logo, na qualidade dos serviços públicos. Ou na emigração, que deixou o país sem quadros jovens. Quando tudo é reconduzido à lógica do "restabelecimento de direitos" perdidos no sector público, alguns auto-iludem-se mesmo quando não conseguem iludir mais ninguém. Seja em S. Bento, no Porto ou frente ao Ministério da Educação.
Grande repórter