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Fernando Sobral - Jornalista fsobral@negocios.pt 02 de Outubro de 2017 às 19:58

O grande desafio curdo

O referendo no Curdistão iraquiano resultou numa maioria esmagadora de apoio à independência. Mas agora o Presidente Barzani vai ter de se confrontar com o cerco da Turquia, do Irão e do Iraque.  

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Os dados estão aparentemente todos lançados. A maioria dos curdos do Iraque terão votado a favor da independência, o que levou o governo iraquiano a bloquear o aeroporto de Erbil (a capital curda) e a soarem a vozes críticas do Irão e da Turquia (o Presidente Erdogan vê mesmo o dedo da Mossad israelita por trás da estratégia curda). Pelo meio, os Estados Unidos criticam de forma pouco veemente os curdos (seus aliados terrestres na luta contra o Daesh) e procuram posicionar-se como a força capaz de fazer a ponte entre Erbil e Bagdade para "conversações". Russos e chineses assistem com apreensão a este redesenhar das fronteiras do Médio Oriente, algo que parece ser uma posição americana há muito. No meio está o Presidente curdo Masoud Barzani que apostou todas as fichas neste jogo complicado. Agora começa o verdadeiro braço-de-ferro entre Barzani e o primeiro-ministro iraquiano Haider al-Abadi. Os curdos são cerca de 22% da população iraquiana (que rondará os 32 milhões). As suas forças, os Peshmerga, têm sido a tropa no terreno utilizada pelos EUA para não utilizarem as suas próprias forças no combate ao Daesh. Isto para desespero da Turquia (que luta há anos com o PKK, que deseja criar um território autónomo ou independente curdo no país) e o Irão (com um problema semelhante). A isso junta-se uma possível redefinição das fronteiras da Síria.

 

Há outro factor a ter em conta: o peso de Kirkuk, onde está o poder económico, devido a ser o centro de produção petrolífera, e onde há uma população mista de curdos, árabes sunitas e xiitas e outros de origem turca. E o petróleo faz parte desta equação. Erdogan já disse que, se for preciso, fechará as portas por onde passa o petróleo curdo para exportação. As relações comerciais com a Turquia e o Irão são muito importantes para o Curdistão iraquiano: 95% das necessidades agrícolas do Curdistão vêm destes países e este depende da Turquia quase totalmente para exportar o seu petróleo (550.000 barris por dia). Erbil controla 40% das exportações de petróleo iraquiano, com os curdos a ficarem com cerca de 25% das receitas totais das exportações. Em 2011, o Governo de Erbil fez um acordo petrolífero com a Exxon Mobil (quando o actual secretário de Estado americano Rex Tillerson era o seu CEO) para desespero de Bagdade. Mas Erdogan tem razão: basta um gesto turco para que o petróleo curdo deixe de circular no gasoduto que o leva até ao porto de Ceyhan no Mediterrâneo.

 

Japão: a derradeira aventura de Abe?

 

A decisão da governadora de Tóquio, Yuriko Koike, de se aliar ao maior partido da oposição abre as portas para aquilo que se julgava impossível há muito pouco tempo: poderá haver vida no Japão depois de Shinzo Abe. É certo que Koike, uma política muito popular, poderá ainda ter poucas hipóteses de se tornar primeira-ministra, mas o seu desafio coloca-a na linha da frente pra a sucessão. O Partido Liberal Democrático de Abe tem governado o Japão desde 1955 com duas pequenas interrupções e a sua grande força nas zonas rurais mais tradicionais do país, além de ser o centro dos grandes interesses empresariais do país. Tem por isso fortes apoios e financiamentos, que lhe permitem sempre partir em vantagem para as eleições, como estas antecipadas de 22 de Outubro. Por outro lado, os partidos da oposição, o Democrático, ou o novo Partido da Esperança, a que Koike se juntou, tem posições muito diferentes do PLD. Mas se ambos os partidos da oposição unirem esforços aquilo que parecia inevitável, uma vitória do PLD, talvez possa ser posto em causa. E criar-se uma era pós-Abe.

 

Como pano de fundo está o lugar do Japão na cena internacional. Por um lado defronta-se com o poder crescente da China na sua zona de influência. Por outro, a sua economia continua a deslizar a nível global. Um dado evidente é que um ano antes de Abe ter chegado a primeiro-ministro, o Japão era o quinto país no Relatório global da Competitividade e agora é o nono. Apesar dos aparentes esforços de Abe para tornar mais transparente o poder económico, os escândalos da Toshiba, dos "airbags" da Takata e a gestão da limpeza de Fukushima pela Tokyo Electric Power deixaram muitas perguntas por responder. Tal como a Abenomics. É por isso que a chegada meteórica de Koike à política está a alterar muita coisa. E poderá fazê-lo.

 

Macau: 40 milhões de visitantes?

 

Macau poderá receber até 40 milhões de visitantes em 2025, de acordo com o Plano Geral do Desenvolvimento da Indústria do Turismo de Macau, que abrange as actividades a serem desenvolvidas ao longo dos próximos 15 anos. O documento pretende assegurar o desenvolvimento da indústria turística de uma forma articulada com a direcção de desenvolvimento do país e do governo da Região Administrativa Especial de Macau.

 

China/Brasil: HNA nos aeroportos

 

O grupo chinês HNA foi autorizado a entrar como accionista na Rio de Janeiro Aeroportos, a sociedade gestora do Aeroporto Internacional António Carlos Jobim, popularmente conhecido por Aeroporto do Galeão. O grupo chinês adquiriu, através da subsidiária HNA Infraestructure Investment Group, a participação até agora detida pelo grupo brasileiro Odebrecht. O grupo HNA adquiriu em Agosto de 2016 uma participação de 23,7% da companhia aérea brasileira Azul, pela qual pagou 450 milhões de dólares, passando a ser o principal accionista. 

 

Arábia Saudita: mulheres ao volante

 

A decisão para permitir que as mulheres possam conduzir na Arábia Saudita deverá começar a produzir efeitos em Junho de 2018 e é considerada uma mudança social relevante num regime muito conservador. Há quem diga que tem o dedo do influente príncipe herdeiro, Mohammed bin Salman, numa altura em que o reino necessita de ser visto positivamente na cena internacional, depois das suas aventuras militares no Iémen, do bloqueio ao Qatar e da sua actuação como fonte de financiamento do pensamento mais conservador do Médio Oriente, o wahhabismo. Isto numa sociedade onde não há praticamente liberdade de expressão, partidos políticos, governo representativo ou sociedade civil independente. Será uma simples manobra de propaganda? 

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