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02 de Fevereiro de 2017 às 00:01

O dramatismo de Passos

Passos vai caminhando com pés de chumbo para as autárquicas e para os desafios que alguns lhe podem colocar após os resultados destas.

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Pedro Passos Coelho está a transformar-se numa das personagens trágicas de Shakespeare. A alta intensidade dramática das suas últimas intervenções pode incomodar António Costa e fazer oscilar um pouco mais a desconfortável coligação que sustenta o Governo, mas a plateia que o líder do PSD busca é outra. Não é tanto o país, mas sim a galeria onde está instalado o seu partido. A sua recente alteração estratégica, para uma política de carrinhos de choque que vai contra tudo, ficou ainda mais evidente quando veio criticar "reuniões de grupinhos de chefes de Estado e Governo", referindo ao conclave de países do Sul em Portugal. Erro lógico porque mostrou que continua a ver na Alemanha o sol que ilumina a Terra e foi deselegante para alguém como Mariano Rajoy, que é da sua família política. Mas tudo está a servir como arma de arremesso para Passos mostrar que ainda conta na política nacional e, mais, dentro do seu partido.

 

Na pena genial de Shakespeare tudo conflui nas conspirações de palácio onde se joga verdadeiramente o poder político. Num país onde o debate político e ideológico foi substituído pelos "slogans" e pelas adagas, nada disso admira. Passos vai caminhando com pés de chumbo para as autárquicas e para os desafios que alguns lhe podem colocar após os resultados destas. É certo que o bailado frenético de Passos tem a ver com a sua obstinação para olhar para o passado, julgando que este é o presente. Mas já o Antigo Testamento, lembrando a mulher de Lot que se transformava numa estátua de sal, recordava os perigos de viver a olhar para o passado. Numa sociedade estilhaçada pelo rigor da troika, os portugueses buscam agora novos referentes políticos e morais. Mas não é isso que Passos lhes está a oferecer: ele apenas quer sobreviver dentro do seu partido. E para isso tem de mostrar que é um Exterminador Implacável. Uma coisa é a necessária oposição. O próprio Governo precisa dela. Outra coisa é este dramatismo que coloca Passos como um mau intérprete de Shakespeare.

 

Grande repórter

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