Opinião
O adeus de Arsène Wenger
O anunciado adeus de Arsène Wenger como treinador do Arsenal, que liderava há 22 anos, parece ser o encerrar de uma era. Sinal dessa mutação fora a saída de Alex Ferguson do Manchester United.
Hoje, mesmo nos mais carismáticos clubes britânicos, já não há lugar para estratégias de longo prazo, ou para planos quinquenais. Os resultados imediatos guiam os destinos dos clubes. É isso que desejam adeptos e investidores. São as vitórias céleres que trazem receitas, patrocínios e lucros. No fundo os clubes, para lá do seu lado emocional, guiam-se por dividendos, como as empresas. Remunerar os accionistas ou os adeptos é um destino. E foi isso que Arsène Wenger sempre se mostrou incapaz de fazer: o Arsenal foi um clube que prometia altos voos e que, quase sempre, planava baixinho. Wenger aguentou até que o novo tempo lhe ordenou que deixasse o banco do Arsenal.
Não deixa de ser curioso que Wenger tenha sido um dos que mais depressa adivinharam os novos tempos das estatísticas, dos computadores e da informação para julgar as qualidades dos jogadores. Além de treinador, Wenger era licenciado em Economia e um distinto matemático. Em finais da década de 1980 o seu olhar clínico levou-o a usar, no Mónaco, um programa de computador chamado Top Score. Era o tiro de partida para a utilização de informação recolhida e tratada sobre o que cada jogador fazia em campo: quantos quilómetros corriam, quantos desarmes faziam, quantos passes acertavam. A economia do desporto ocupava o relvado. Interessavam os resultados e não apenas as fintas. Claro que as estatísticas também mentem, como reconheceu Ferguson quando vendeu o defesa Jaap Stam, porque elas diziam que ele fazia menos desarmes do que antes. Portanto, estava em declínio. Não era o caso: com a idade, Stam lia melhor o jogo e sabia antecipar-se antes de fazer faltas. Wenger também era um fanático da informação: no dia a seguir a cada jogo lia todas as estatísticas com rigor matemático. Mas isso não o salvou. O futebol vive de resultados. Mas também vive da criatividade. Que não vem nas estatísticas.
Grande repórter