Opinião
Estratégia: Batalha naval entre a China e os EUA
O Estreito de Malaca sempre foi um centro estratégico para controlar o comércio entre nações. Afonso de Albuquerque sabia isso. Hoje é patrulhado muitas vezes por navios de guerra dos EUA. Mas é por ali que passa a maioria do petróleo importado pela China.
Em 1511, Afonso de Albuquerque e os portugueses sabiam que o estreito de Malaca era a principal passagem marítima entre os oceanos Índico e Pacífico. A cidade era o porto por onde passava o comércio entre a China e a Índia. O comércio árabe no oceano Índico já havia sido bloqueado com a conquista de Aden e Ormuz, e assim secava a fonte de riqueza de Veneza. Por isso a sua conquista foi um alvo estratégico fundamental para a Coroa portuguesa. Os comerciantes da cidade italiana, no século XV, já haviam avisado: "Quem for o lorde de Malaca tem a sua mão na garganta de Veneza".
Este episódio é recordado por Geoff Dyer no seu novo livro "The Contest of the Century: The New Era of Competition with China", a propósito da estratégia naval do Império do Meio e dos planos dos EUA para aquele que foi o seu lago privado, o Pacífico. É uma obra que nos lembra que, para lá da competição política e económica, há uma que não pode ser esquecida: a militar. Dyer recorda a importância de Malaca para a China, ainda hoje: desde 2010 que Pequim é o segundo maior importador global de petróleo e oito entre cada 10 barris importador atravessam, por navio, o estreito de Malaca, que é patrulhado por navios dos EUA. Dyer fala da base naval chinesa de Hainan (também grande destino turístico) para lembrar as duas faces do crescimento do país como potência.
O poderio naval chinês tem crescido rapidamente e os recentes conflitos em águas reclamadas por diferentes países da zona mostram isso. Mas, para Dyer, o objectivo central da marinha chinesa é, segundo Dyer, pressionar os EUA a sair da sua zona de influência, através de navios de guerra (incluindo o seu primeiro porta-aviões), submarinos e mísseis de longo alcance. Com isso, além de uma questão de orgulho nacional (a marinha de guerra americana passeia-se por zonas muito próximas do país e as intervenções estrangeiras sempre se basearam na "diplomacia da canhoneira"), a China quer minar as alianças dos EUA com outros países, como o Japão, a Coreia do Sul e as Filipinas, que sempre confiaram no poder dissuasor americano. A China volta-se para os mares à sua volta. Longe vão os tempos em que a sua marinha de guerra não passava de uma ténue guarda costeira. A batalha naval agora é outra.
Aliança: Arábia Saudita corteja Paquistão
A recusa da Arábia Saudita de fazer parte do Conselho de Segurança da ONU, para o qual tinha sido eleita após uma campanha onde utilizou todos os seus meios, foi um sinal de que algumas alianças estão a mudar no Médio-Oriente. Duas visitas seguidas de altos responsáveis sauditas ao Paquistão no espaço de um mês, incluindo os ministros da Defesa e o dos Negócios Estrangeiros, mostram que as relações entre os dois países estão a estreitar-se. Levantando questões sobre uma alteração de cumplicidades na zona.
Ao mesmo tempo o Irão avisou o Paquistão que deveria deixar de permitir que o grupo terrorista wahhabita Jeish Al Adl, que ainda recentemente fez um ataque em território iraniano tivesse bases em seu solo. Foi um aviso duro, que demonstra que as relações entre os dois países já passaram por fases melhores. De resto, depois de ter sido um dos defensores da iniciativa, o primeiro-ministro paquistanês Nawaz Sharif tem atrasado o avanço do projectado "pipeline" Irão-Paquistão para transporte de gás e petróleo, um sinal de que Islamabad está a cooperar mais fortemente com Riade e a escutar as "recomendações" desta relativamente às relações com Teerão.
É evidente que o Irão está também cada vez mais apreensivo com a possível (e visível) regresso dos talibãs ao poder no Afeganistão e com a possibilidade de uma nova fase do rearmamento dos opositores a Bashar al-Assad na Síria, onde os paquistaneses poderiam ter uma palavra a dizer. A visita do príncipe britânico Carlos a Riade surgiu também nas vésperas de ter sido definido um novo preço para a aquisição de 72 caças Eurofighter da BAE britânica pela Arábia Saudita, um claro reforço das relações económicas e diplomáticas do reino wahhabita com a Grã-Bretanha.
China: Comércio com lusófonos sobe
O comércio entre a China e os países de língua oficial portuguesa atingiu os 131 mil milhões de dólares em 2013, um aumento de 2,31% face ao ano anterior, segundo dados oficiais publicados agora em Macau. O Brasil é o maior parceiro comercial da China, com vendas à China superiores a 53 mil milhões de dólares. Angola surge em segundo lugar, vendendo à China 31 mil milhões de dólares. Portugal está em terceiro lugar, com exportações de 1,4 mil milhões de dólares. E Moçambique já surge numa posição de relevo.
Proposta: Cantão em vez de Guangzhou
Lei Jianwei, um delegado à Conferência Consultiva local do PC Chinês sugeriu que se Guangzhou mudasse o nome para Cantão melhoraria a sua imagem internacional. A língua regional Yue (chamada cantonês no Ocidente) é falada por 110 milhões de pessoas no mundo. E que por isso não há uma associação imediata com Guangzhou. Cantão tem origem na forma como os portugueses denominavam a cidade.
Índia: Nacionalistas acusam China
O candidato do partido nacionalista hindu BJP, Janata, Narendra Modi, favorito a vencer as eleições indianas deste ano, avisou a China para limitar a sua "mentalidade expansionista". E que deveria antes focar-se em relações bilaterais pacíficas com a Índia. Modi falava no estado de Arunachal Pradesh, junto aos Himalaias, uma região reclamada pela China, palco de conflitos militares desde 1962.