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19 de Fevereiro de 2017 às 18:35

Cavaco e o teatro político

Orson Welles dizia, para quem estava atento, que: "Eu tenho o terrível sentimento de que como tenho uma barba branca e estou na última fila do teatro, estou aqui para vos dizer a verdade. Mas estes são os lugares mais baratos, não é o Monte Sinai."

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A política pode ser um outro palco da representação teatral, mas quando todos os actores parecem ser meros alunos diligentes dos seus interesses partidários, é porque entrámos num mundo irreal semelhante ao da série "Twin Peaks": "Quem matou as SMS da CGD?" A guerra civil sobre o tema está agora a ser travada num lamaçal de maionese. É uma guerra de trincheiras que já não desperta qualquer interesse dos portugueses. Mas isso não invalida que alguns políticos portugueses continuem a disparar pistolas de "ketchup" uns aos outros. O recente ataque de João Galamba, conhecido pelo verbo fácil, a Marcelo, vem abrir mais frentes de batalha, algo que António Costa dispensa. Por isso, depois de dizer o que pensa algum PS, foi mandado calar. Isso é típico da política indígena: tornou-se um teatro ambulante em que nada de substancial se discute. 

 

Cavaco Silva saiu do silêncio para contar a sua verdade sobre os anos do governo de Sócrates. Está lá todo o seu horror: é um ajuste de contas com o então primeiro-ministro que acreditava que nunca chegariam os tempos de vacas magras. Percebe-se o fosso que separava Cavaco de Sócrates. Mas o picante que sobra do livro é o sapo que o antigo PR teve de engolir quando deu posse a António Costa. Na única vez que elogia Sócrates, por não se ter deixado "capturar" pelo PCP e pelo BE, está a zurzir Costa. É uma picada sibilina no actual Governo, o qual Cavaco parece comparar às hordas de Gengis Khan quando diz que não existe no "mundo desenvolvido" qualquer país que tenha tido sucesso com partidos de extrema-esquerda. Vivemos tempos curiosos. E ainda bem que Cavaco partilha as suas memórias. Ajudam-nos a perceber melhor este Portugal onde as conjuras da corte do poder normalmente esquecem os interesses mais gerais dos portugueses.

 

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