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Carne para canhão

A próxima fase do futebol está desenhada: a transferência de Neymar para o PSG cavou o fosso entre o que vão ser os clubes com fundos ilimitados para contratar os melhores craques e os clubes da classe média.

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Uma das mais deliciosas histórias que se contam sobre o mundo do futebol milionário em que vivemos passou-se no balneário do Manchester United. Depois de um jogo em que David Beckham tinha jogado muitos metros abaixo dos milhões que lhe eram pagos todos os meses, Alex Ferguson deu um pontapé numa bota que acertou num dos olhos do jogador. Deixou-o a sangrar. A dupla teve de ser separada para não acontecer algo mais trágico. Beckham vivia sob a protecção de Ferguson desde os 11 anos, mas o seu casamento com a Posh Spice e a sua ascensão a estrela publicitária tinham tornado o convívio entre ambos muito mais difícil. Beckham foi assim vendido ao Real Madrid. O futebol, desde então, colocou os antigos valores numa caverna fechada a sete chaves e passou apenas a preocupar-se com as receitas, seguindo o exemplo da FIFA. Nada a opor: o futebol tornou-se uma indústria como qualquer outra, exceptuando ter comissionistas a actuar (e a receber) às claras.

 

A próxima fase do futebol está desenhada: a transferência de Neymar para o PSG cavou o fosso entre o que vão ser os clubes com fundos ilimitados para contratar os melhores craques e os clubes da classe média. Este modelo de cadeia alimentar replica-se depois em cada país. O sol, quando nasce, nem sempre é para todos. Compreende-se a revolta de Manuel Machado, treinador do Moreirense: "Ou se promove o equilíbrio ou esta desigualdade vai acabar com o futebol; só importam os 'três grandes', o resto é carne para canhão". O problema é que, ao contrário do que dizem algumas almas inocentes, não é pelas receitas de televisão ou pelo "fair-play financeiro" que se criará uma Liga mais competitiva. Basta olhar para o reflexo do futebol nos media: tudo circula à volta de FC Porto, Benfica e Sporting. O resto vale notas de rodapé. O fosso que separa PSG, Manchester City, Barcelona ou Real Madrid dos "três grandes" portugueses é o mesmo que afasta estes dos outros clubes. O futebol de 11 contra 11 ainda existe. Mas alguns 11 são mais iguais do que os outros.

 

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