Opinião
Bucha e Estica
O Governo achava que, com o seu refinado humor e elegância impagável, Portugal ia ser Bucha. Revelou-se Estica. A conta chegou. Em forma de factura electrónica para ninguém se enganar.
Em 2012, o PIB português, através da eficiente acção da brigada de demolição do Governo, contraiu 3,2%, a maior queda desde 1975. À desaceleração das exportações juntou-se a brutal queda do consumo, resultado normal do saque fiscal que afectou os portugueses e que vai alargar-se em 2013.
O Governo atirou pedras para um poço sem fundo e elas não trouxeram respostas: afundaram-se e apenas sussurram palavras sem nexo. Sob a batuta da política de austeridade sem fim deste Governo e da troika, Portugal está a tornar-se uma ruína patética. Deixou de haver almoços grátis, mas o custo político está agora a ser servido à mesa do Governo. Em forma de pataniscas sem bacalhau.
A destruição da economia interna, com o sonho de que as exportações tudo resolveriam (especialmente se os portugueses tiverem salários ao nível da Bulgária e do Camboja), cumpriu o seu objectivo mais vasto: derrubar o PIB. O Governo tem agora a possibilidade de explicar qual é o caminho a seguir (se é que ele leva a algum lugar). Até porque, como é evidente, quando os mercados vêem crescer a economia voltam a acenar com dinheiro. Porque a codícia é mais forte do que a memória. Um PIB anémico não serve para pagar dívidas nem acenar num oceano quando se é náufrago. Ninguém reparará na fraca figura.
Portugal está cada vez mais pobre. Mais mirrado. Mais indefeso. Já nem faz rir como Estica. Caminhamos a passos largos para os anos 60. Para o Portugal a preto e branco que víamos na RTP.