Opinião
As lições de Bowie e Cohen
Este foi um ano de tristes notícias. David Bowie e Leonard Cohen, por exemplo, deixaram este mundo material que um dia Madonna cantou como se fosse uma música de dança. Mas, agora que o pó da melancolia já se espalhou, é interessante voltar a eles nestes dias de confusão.
"Changes", de Bowie, foi talvez a sua canção mais simbólica. Há que saber viver em constante transformação. Que melhor lição de gestão poderia alguém partilhar com os outros? Bowie compreendeu, talvez melhor do que muitos outros, a constante mudança de sons e tendências. Soube sempre ver o que nos reservava o futuro antes dos outros. O seu mundo era o de hoje. E não o de ontem. Bowie sabia o que era sobreviver. Mas, quer ele quer Cohen sabiam que a qualidade era o trunfo maior no mundo da música pop onde a efemeridade ameaça tudo. Tal como no mundo das empresas, ambos sabiam que a constante qualidade de bens e serviços acabava por compensar. Driblando tendências precárias. E que a qualidade mantinha-se, acima do preço ou do marketing de ocasião. Cohen e Bowie souberam sempre reinventar-se, porque eram curiosos e tinham uma visão periférica da realidade. Tinham aquilo a que designamos como cultura geral. Algo que às vezes vai faltando no mundo de hoje.
Cohen e Bowie não colocavam apenas novas roupagens para mostrarem que estavam a mudar. Quando mudavam era o conteúdo que se alterava. Em palco impunham uma presença única. Eram magnéticos e não facilitavam. Tinham uma ética: a sua integridade não se alterava de acordo com as circunstâncias. E aí poderiam também continuar a ser um modelo para políticos e empresários. A sua memória está guardada em canções que perdurarão. Tal como hoje pensamos em estadistas que ficarão para sempre (de Winston Churchill a Franklin Roosevelt), já que as suas acções e frases têm o peso da solidez. Quando se olha à volta para este mundo tumultuoso, Bowie e Cohen parecem árvores sem tempo: carvalhos ou cedros que assistem aos ciclos do mundo. E ali continuam eternamente.
Grande repórter