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La Bayadère: Em pontas até à Índia

Misturam-se cores, tecidos, geografias. "La Bayadère" é resgatada do passado e junta-se ao reportório da Companhia Nacional de Bailado. O exotismo oriental tornado tão próximo.

La Bayadère, O novo trabalho da CNB está no Teatro Camões, em Lisboa, até 23 de Dezembro. Fernando Duarte assina a coreografia. Bruno Simão
10 de Dezembro de 2016 às 13:00
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"Nunca fui à Índia. Todo o meu conhecimento acerca deste país assenta no que está à minha volta". Fernando Duarte, coreógrafo, assume: onde o corpo se deteve, a imaginação pode chegar. É para essa geografia distante que nos conduz em "La Bayadère".

Quando o criador era muito pequeno, o seu pai foi à Índia. "Escreveu uma carta e disse que já podia morrer em paz porque tinha visto o Taj Mahal. Ficou-me a ideia de que é uma imagem muito forte".

Tão poderosa, diríamos, como a vontade de fazer este espectáculo. Em 1987, a Companhia Nacional de Bailado (CNB) apresentou o icónico "Acto das Sombras" ou "Acto Branco". Faltava muito mais.

"É um bailado especial. Não há muitas versões existentes. Há duas, filhas da original. Ficou muito circunscrito. Nem todas as companhias têm a oportunidade de o dançar". Agora, para assinalar o quadragésimo aniversário, também a CNB se junta à restrita lista.

O corpo de dança sobe ao palco do Teatro Camões, em Lisboa, acompanhado pela Orquestra de Câmara Portuguesa a interpretar o libreto de Sergei Khudekov. A direcção musical é do maestro Pedro Carneiro. O coreógrafo olha em redor e orgulha-se: "também me cabe a mim a honra".

Não se trata de uma simples viagem à Índia, cujo exotismo é trazido pela exuberância dos cenários e figurinos, assinados por José António Tenente. Está aqui implícita uma viagem no tempo. Recuam-se quase 130 anos, a 1887, quando "La Bayadère" se estreava em São Petersburgo, Rússia.

"Quando se viajava nessa altura, era mais entusiasmante pensar o que seria o mundo do lado de lá. As informações que chegavam à Europa eram através de relatos, desenhos e pinturas, sempre sujeitos à subjectividade de cada um".

A velocidade do clique mudou o processo mas manteve a essência das narrativas sobre o outro. "Não deixa de ser interessante, fazermos sempre a nossa interpretação…". Mais informação não significa, necessariamente, um olhar mais límpido sobre o outro. "Há uma desconfiança. É essa a palavra: o que é que o outro realmente é ou pretende?".

Imaginação, fascínio, enigma, dúvida. O coreógrafo acredita que a dança, enquanto forma de arte, foi procurando sempre fazer esse esforço para trazer o que está longe. Nos seus movimentos cultiva o gosto do exótico. Já era assim no século XIX, "tinha a ver com a época".

"A 'La Bayadère' foi um dos poucos que chegou até nós, muito graças ao 'Acto Branco'. Existem inúmeros bailados passados na Tailândia, Egipto, nos sítios que passaram a ser colónias - mais apetecíveis que a própria metrópole".

Esta, em concreto, é também ela uma história que mistura vários ingredientes. Amores, desencontros, traição, ciúmes, mortes, amarguras. A protagonizá-los um guerreiro, uma princesa, um faquir, um alto sacerdote hindu e uma bailadeira do templo - a "bayadère".

Fernando Duarte procura seguir a coreografia original legada por Marius Petipa. "Não deixavam de ser uma companhia imperial russa. A música não tem inspiração indiana e a dança em si é um clássico ballet imperial. Em muitas partes quis manter essa tradição".

Noutras, e porque criar é também adicionar uma marca, seguiu as suas vontades e trabalho de pesquisa. "Fui-me inspirar nesse movimento de ancas, cabeça, olhar e uma certa sensualidade que há na dança clássica indiana".

As linhas do corpo tornam-se guias: Elegantes, coloridas, chamativas. Para uma viagem em que tanto se revela no silêncio dos corpos, parados ou em movimento. Também eles um outro por conhecer.



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