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Angola e Zorro

Durante meses a teimosia justiceira fez toldar as relações entre Angola e Portugal. Poderia ser por um motivo sério. Mas não. Era devido a uma razão única: o MP gosta de mostrar que é um pavão.

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Sigmund Freud dizia que a razão, quase sempre, fala em voz baixa. Às vezes o seu sussurro é tão difuso que não chega aos mais distraídos ou aqueles que julgam que o seu mundo não se cruza com o dos outros. A voz da razão demora muitas vezes uma eternidade a chegar ao nosso prestimoso Ministério Público. Veja-se o caso paradigmático do envio do processo de Manuel Vicente para Angola, um nada pequeno "irritante" que estava a transformar as relações entre Luanda e Lisboa num pandemónio. A diplomacia e a justiça nem sempre seguem vias paralelas, mas neste caso nem se tratava de sensatez. Tudo tinha a ver com a atitude provinciana e tacanha do MP português que não confia na justiça noutros Estados e que julga que a estátua da deusa Têmis é propriedade sua. E o seu templo, onde vão os fiéis de todo o mundo, fica ali na rua da Escola Politécnica. Pior: alguns magistrados do MP, que na infância julgaram que iriam ter uma excelsa carreira cinematográfica em Hollywood (ou, mais modestamente, em Bollywood), acabaram como magistrados. O que é uma profissão menos empolgante e mediática. Assim julgam hoje que são descendentes de Zorro ou de Steven Seagal. Nada contra. Cada um compra as máscaras de Carnaval que deseja, mas escusam de usar isso em público. É deprimente.

 

Durante meses a teimosia justiceira fez toldar as relações entre Angola e Portugal. Poderia ser por um motivo sério. Mas não. Era devido a uma razão única: o MP gosta de mostrar que é um pavão. Gosta de dar lições de elegância e de moral. Mas abaixa as orelhas quando foi, por exemplo, criticado pelos meios judiciais britânicos aquando do "caso Maddie", que arrasou a investigação nacional. Não se sabe porque a justiça portuguesa assina acordos ao nível dos PALOP, quando depois julga estar num pedestal e só confia no seu umbigo. É esta arrogância que a leva a cometer erros gritantes, como se está a provar no "caso Sócrates" e, antes, noutros. Nem todos podem ser Zorro. É preciso ter qualidades para isso.

 

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