Opinião
A complexa guerra contra o Daesh
Na luta contra o Daesh todas as alianças são muito frágeis. A Turquia, por exemplo, arrisca-se a perder politicamente, porque Rússia e EUA querem dar poder aos curdos.
No terreno todos estão contra o Daesh. Mas esse objectivo faz-se com alianças que não estão consolidadas e suspeitas comuns entre os aliados. O ministro francês da Defesa já veio dizer na semana passada que o assalto final a Raqqa, a autodenominada capital do Daesh, vai começar em breve. A "capital síria" do Daesh terá entre 3.000 a 4.000 militantes do movimento terrorista e, apoiados pela coligação liderada pelos EUA, estão as forças árabes e curdas, incluindo as tropas das Forças Democráticas Sírias. O Daesh está também sob enorme pressão em Mossul, no Iraque. Estas operações são observadas com atenção e cuidado por outras potências com interesses na região como a Rússia e a Turquia, que aparentemente terão uma aliança. Só que Ancara está a ficar numa situação complicada: quer os EUA, quer a Rússia, apoiam as forças curdas, o principal inimigo da Turquia. E Moscovo já mostrou que quer continuar a proteger os curdos, uma força de combate essencial para destruir o Daesh. O processo de aproximação entre a Turquia e a Rússia, iniciado nos últimos tempos, serviu para afastar os EUA dos jogos de poder na Síria. E para Ancara isso servia para colocar tropas suas em território sírio, criando uma zona de segurança que impedisse que as diferentes forças curdas se conseguissem unir, criando um "grande Curdistão". Mas as coisas não têm corrido bem para Ancara, porque Moscovo parece estar a proteger os curdos sírios, especialmente depois de tropas russas terem chegado ao enclave curdo de Afrin, na Síria. Afrin era um alvo claro para as tropas turcas.
Curiosamente, Moscovo parece estar cada vez mais próximo de Washington nas decisões estratégicas para a zona. Há algumas semanas as tropas russas também se deslocaram para Manbij, a cidade controlada pelos curdos no Norte da Síria, que também era vista como um alvo pela Turquia, que chegou a bombardeá-la em Fevereiro. No caso, russos e americanos defendem a mesma cidade. Ancara parece agora estar segura de que russos e americanos estão a permitir aos curdos seguir a sua própria agenda política, ou seja, criar um estado curdo autónomo que poderia levar à criação de um estado nas fronteiras turcas, com consequências inimagináveis. Os curdos sírios têm fortes ligações ao PKK dos curdos turcos. Por outro lado é evidente o peso da Turquia nas negociações que decorreram em Astana, no Cazaquistão, que a Rússia e o Irão têm uma posição mais forte, já que as forças da oposição síria (apoiadas por Ancara) não estiveram na mesa para tentar chegara um acordo. O ataque das forças da oposição síria a Damasco também não ajudaram a serenar as divergências entre a Turquia e a Rússia. Resta agora saber que tipo de jogo estão a negociar russos e americanos para a região e, sobretudo, para o futuro da Síria.
Timor-Leste: o início de um novo ciclo
A eleição de Francisco Guterres para Presidente de Timor-Leste marca um novo ciclo na vida política, mas também económica, da antiga colónia portuguesa. Por um lado fala-se de estabilidade política. Por outro da possibilidade de finalmente o país chegar a acordo com a Austrália no diferendo sobre as receitas de petróleo e gás natural que são explorados nas águas que separam ambas as nações. Foi uma boa vitória de Guterres, que irá iniciar funções em Maio. Guterres, líder da Fretilin, tinha falhado a sua eleição em 2012 e parece ser o fruto do "governo de unidade" que tinha como opositores alguns sectores da sociedade timorense, como Taur Matan Ruak, até agora Presidente. No centro da disputa estão as receitas do petróleo, que Ruak considera serem esbanjadas, e que motivam que se vá candidatar a primeiro-ministro em Julho com o novo Partido da Liberdade do Povo. Em Timor-Leste, o Presidente tem aparentemente um papel cerimonial. Nessa campanha os gastos públicos, a diversificação de receitas e a corrupção serão muito provavelmente o centro dos debates. Mais de 90% do OE deriva das receitas do petróleo e gás, muito dele desviado para o fundo soberano do país, que tem hoje um músculo de 15,8 mil milhões de dólares. Mas as suas receitas poderão evaporar-se no espaço de uma década se o maior campo petrolífero, Bayu-Udan, deixar de estar operacional. Por outro lado há a divergência com a Austrália por causa da propriedade das reservas petrolíferas nos mares, algo que foi negociado entre o anterior ocupante da nação (a Indonésia). Depois da independência, a zona, conhecida como Timor Gap (que inclui o campo Greater Sunrise), foi dividida 50/50% entre a Austrália e Timor-Leste. As divergências entre os dois países têm, no entanto, aumentado nos últimos anos. A eleição de Guterres permite prever que se possa chegar a um acordo entre os dois vizinhos, mostrando que o papel do Presidente pode ser mais activo do que a Constituição timorense diz. Sabendo-se que as receitas do petróleo e gás são vitais para Timor-Leste não é de excluir que o antigo crítico do acordo, Guterres, aposte agora na diplomacia.
Hong Kong: Carrie Lam, nova líder
Carrie Lam foi eleita como líder de Hong Kong, a primeira mulher a ascender a este cargo. Teve 777 dos 1.194 membros do comité que elege. A antiga secretária para a Administração bateu o seu antigo colega, o secretário das Finanças, John Tsang. Carrie Lam é alinhada com as posições de Pequim para a antiga colónia britânica e liderará o Governo nos próximos cinco anos. Foi a primeira eleição depois do movimento que em 2014 ocupou a cidade pedindo "mais democracia".
AIIB: mais membros
O Asian Infrastructure Investment Bank (AIIB) anunciou que passaram a fazer parte da instituição 13 novos membros, incluindo o Canadá. O total de membros é agora de 70, incluindo Portugal. Os novos membros incluem oito países não asiáticos (Canadá, Bélgica, Etiópia, Hungria, Irlanda, Peru, República do Sudão e Venezuela) e cinco da região (Timor-Leste, Hong Kong, Afeganistão, Arménia e Fiji). A instituição é vista como uma rival do Banco Mundial e foi inicialmente criticada pelos EUA, mas tem vindo a ganhar membros que são aliados de Washington.
China: Televisão para Angola
A Startimes Media, uma empresa que fornece televisão por assinatura a cerca de 10 milhões de clientes em África, pretende expandir a actividade no continente, sendo Angola um dos países que está a ser analisado, disse o vice-presidente da operadora chinesa de TV no Quénia, Mark Lisboa. A empresa opera actualmente em 14 países de África a sul do Saara, como o Quénia, Uganda, Tanzânia, Moçambique e África do Sul. Em declarações à agência noticiosa Xinhua, Mark Lisboa adiantou pretender que a empresa expanda a sua presença no continente e atingir um total de 20 países até ao final do ano. Os países contemplados nesse processo de expansão incluem, além de Angola, o Egipto, a Namíbia e a Suazilândia.