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16 de Setembro de 2013 às 00:01

O melhor do mundo

O Sr. Eusébio jogou numa época em que os sistemas tácticos eram menos rígidos, mas foi seleccionado metade das vezes do que foi o Sr. Ronaldo. No seu tempo as selecções não estavam sempre a jogar. O Sr. Ronaldo vive num tempo em que as capacidades físicas podem ser potenciadas ao extremo

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Há alguns meses, com sensatez, o Sr. José Mourinho disse: "Deveria ser proibido dizer qual é o melhor jogador do mundo. Eles são os dois de outro planeta". Referia-se, claro, ao Sr. Ronaldo e ao Sr. Messi. A guerra tribal sobre quem é "o melhor do mundo" cheira, muitas vezes, mal. Porque sendo o futebol um jogo colectivo, a sofreguidão com que se discute o "melhor do mundo" é tão exacta como fazer a lista do "melhor disco de sempre" e do "melhor filme de sempre". Consoante as épocas e as memórias todas as listas mudam. Como este ano se começa a ver: será o Sr. Ribery melhor do que os crónicos candidatos, o Sr. Ronaldo e o Sr. Messi. É uma conversa que não leva a lado nenhum, a não ser ao ego de alguns e aqueles que julgam estar a fazer o melhor serviço do mundo ao estarem a passar o brilho a esse ego. Quem gosta de futebol a sério percebe que quer o Sr. Ronaldo, quer o Sr. Messi, são jogadores fenomenais. Cada um à sua maneira. O resto são avaliações emocionais. 


Este debate árido está agora a transportar-se para Portugal. Assim que o Sr. Cristiano Ronaldo marcou três golos à Irlanda do Norte levantou-se logo a discussão idiota do costume: é o Sr. Ronaldo melhor que o Sr. Eusébio? Amigos do jogador do Real Madrid vieram logo dizer que sim. Este, sentido, disparou: "Eu não joguei contra o Liechenstein ou o Azerbeijão". Ou seja, a discussão não existe. Tornou-se um diálogo de surdos, porque se guia unicamente por emoções. Depois é impossível comparar dois jogadores que actuaram em períodos completamente diferentes: o Sr. Eusébio jogou numa época em que os sistemas tácticos eram menos rígidos, mas foi seleccionado metade das vezes do que foi o Sr. Ronaldo. No seu tempo as selecções não estavam sempre a jogar. O Sr. Ronaldo vive num tempo em que as capacidades físicas podem ser potenciadas ao extremo, pelo "staff" dos clubes e pela alimentação, coisa que não existia no tempo do Sr. Eusébio. Este era um talento puro. O Sr. Ronaldo é um talento único, mas dispôs de meios para o refinar. A questão não é comparar golos. Da mesma forma que é impossível comparar goleadores de área (como o Sr. Klose que acaba de igualar o mítico valor do Sr. Gerd Muller na Alemanha), é pouco interessante comparar jogadores criativos que arrastavam uma equipa e marcavam golos, como foi o caso do Sr. Eusébio e é agora o do Sr. Ronaldo.

Esta discussão é oca. Porque quem viu o Sr. Eusébio (uma das minhas primeiras memórias foi vê-lo num ecrã a preto e branco, em 1966, contra a Coreia do Norte), jamais esquecerá o seu refinado toque, o seu drible encantador ou a potência do seu remate. Da mesma forma que hoje é um prazer ver o Sr. Ronaldo levar atrás de si a equipa para se vencer a Irlanda do Norte. Só há uma diferença. O Sr. Eusébio é um mito. O Sr. Ronaldo é quase um mito. Que também será.

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