Opinião
Suficientemente bom
Sendo suficientemente bom, a eficácia aumenta com a aprendizagem e com o passar do tempo. Daí que continuando a aprender, a inovar e a tentar, as probabilidades de uma pessoa ter sucesso num novo projecto, pelo menos até aos 50 anos de idade, subam com a idade.
John Goodenough, cientista norte-americano e professor da Universidade do Texas, faz 99 anos para a semana. Há dois anos foi distinguido com o Prémio Nobel da Química, pelo seu trabalho no desenvolvimento das baterias de lítio, hoje uma tecnologia essencial nas comunicações móveis e nos carros eléctricos. Talvez o apelido Goodenough seja modesto para um exemplo de trabalho e de longevidade tão notável.
Vale a pena, contudo, lembrar que ser suficientemente bom, geralmente, é mesmo ser bom o suficiente para se atingir os objectivos. O resto, essencial de igual maneira, é a persistência, a determinação e o passar tempo. Nada que pareça ter faltado a Goodenough. O registo dos Prémios Nobel, no entanto, mostra que na questão da idade ele não está isolado. A idade média dos vencedores dos Nobel é de 60 anos. Há mais vencedores de Prémios Nobel depois dos 80 anos de idade do que antes dos 35 anos. É certo que muitos deles fizeram as descobertas que justificaram a distinção muitos anos antes, mas ainda assim teriam 40, 50 ou 60 anos de idade.
A ideia comum de que o empreendedorismo, a inovação e o sucesso são típicos da juventude não é rigorosa. A idade não é o essencial para o sucesso, evidentemente. O essencial tem de ser algo característico do que se faz, e que tem sucesso. Um estudo do National Bureau of Economic Research, dos EUA, mostra que é mais provável uma pessoa ter sucesso num novo projecto aos 50 anos de idade do que aos 30 anos. O sucesso depende da aprendizagem, das tentativas que se fazem e do acaso. Ora, os jovens tentam muito mais vezes do que as pessoas mais velhas e, por isso, acertam mais vezes em termos absolutos. É por isso, e também por causa do mito do jovem empreendedor, que há mais histórias de empreendimentos de sucesso protagonizadas por jovens do que por pessoas mais velhas.
A criatividade, a inovação e o sucesso, de facto, não têm idade. Aliás, sendo suficientemente bom, a eficácia aumenta com a aprendizagem, com a inovação e com o passar do tempo. Daí que, continuando a inovar, a aprender e a tentar, as probabilidades de uma pessoa ter sucesso num novo projecto, pelo menos até aos 50 anos de idade, subam com a idade. É tão provável ser-se um empreendedor de sucesso aos 30 anos de idade como aos 60, refere Albert-Lászlo Barabási na obra "A Fórmula". Trata-se de focar a energia e assentar a inovação e o novo projecto em conhecimento específico, longamente desenvolvido e experimentado. Harland Sanders inaugurou a KFC quando tinha 65 anos e Ray Kroc fez dos McDonalds o sucesso que se conhece aos 52 anos de idade.
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