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Eurico Brilhante Dias - Deputado do PS 12 de Janeiro de 2016 às 21:23

(Não) Poder

A soberania dá ao soberano o poder; em democracia o soberano, o povo, faz-se representar pelos eleitos. Os eleitos procuram mostrar que o poder nas suas mãos é transformador,  permite mudar ou é, pelo contrário, garantia de prosseguir um caminho já conhecido.

O poder é a capacidade de agir sobre a realidade. É a possibilidade tornada realidade. Sem essa convicção valerá a pena ir votar?

 

Muitos procuram liderar e exercer o poder; mas não os nossos candidatos a Presidente da República. Marcelo esquiva-se; a direita ficou sem candidato. A agenda social e política que PSD e CDS defenderam nas últimas eleições legislativas, e que encontrou em Cavaco Silva um parceiro diligente, não tem candidato presidencial. Marcelo parece candidato a "avô" do regime. Sampaio da Nóvoa anulou-se. Já vão longe os dizeres antipartidos; afinal, o tão famoso "tempo novo" é o velho frentismo "bolivariano", onde sobram hipérboles e "rendilhados" de oratória. A cada palavra que profere só nos ocorre o antónimo.  Maria de Belém tenta navegar à bolina: o vento não sopra a favor da moderação e da afirmação responsável do Presidente da República como baluarte da coesão económica, social e territorial. Edgar Silva e Marisa Matias não têm agenda presidencial; "passeiam" as ideias do PCP e do BE nestas eleições.

 

Mas a verdadeira novidade é o seu apregoado desapego ao poder. Juram não mandar, não fazer e não executar. Alertam que não serão obstáculo ao Governo e ao Parlamento. Prometem uma espécie de (não) poder, que não molesta e não se "mete" no trabalho dos outros. Fugindo da imagem de Presidentes interventivos, como que garantindo que não serão uma "força de bloqueio". Uma (triste) vitória política de Cavaco Silva mais de 20 dias depois. Soares sabia o que era exercer o poder. E nunca prescindiu de o usar quando entedia necessário. Estes candidatos do "tempo novo" são protagonistas de um semipresidencialismo "light", tão empenhados que estão em dar palco ao parlamentarismo.

 

O regime aguenta quase tudo; menos políticos sem poder. Porque isso seria sinónimo de ele próprio, o povo soberano, admitir que não tem verdadeiro poder. Ninguém pode representar um poder inexistente. É por isso que esta campanha das presidenciais tem sido uma desilusão: falta quem diga ao que vem. Não chega querer ir para Belém; é preciso dizer aos portugueses que se quer o poder para fazer, para agir, para dar voz àqueles que mais dificuldades têm em fazer-se ouvir na sociedade portuguesa. É necessário falar de Forças Armadas (só Maria de Belém lhes faz referência), da CPLP, da Comunidade de Países Iberoamericanos, das comunidades emigrantes e de não fugir aos problemas centrais do país: a dívida, a participação na moeda única ou mesmo revisitar o princípio da subsidiariedade no quadro complexo da União Europeia, onde Schengen vive momentos de incerteza (mais uma vez só Maria de Belém fez uma referência a este assunto, logo após os atentados de Paris).

 

A República precisa de um(a) Presidente em quem valha a pena votar; que ajude a mudar a nossa vida. Que não se esconda dos problemas, que não faça do silêncio método, e que não aceite ser apenas um "corta-fitas". Os democratas queriam eleger (e elegeram de facto) Humberto Delgado. E exigiram o sufrágio directo no pós-25 de Abril. A maioria presidencial desaparece no dia seguinte à sua eleição. Estes candidatos parece que querem fazer desaparecer o Presidente da República ainda antes da eleição. Se prometem não exercer poder, a abstenção será a resposta. Expliquem bem: para que serve o nosso voto?

 

Deputado do PS

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