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[668.] Vitória da Selecção em anúncios

Pela primeira vez, anunciantes e publicitários tiveram oportunidade de felicitar a selecção nacional de futebol, pela vitória no Euro 2016. Alguns não desperdiçaram a oportunidade.

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O Novo Banco pegou no mesmo grafismo e na mesma foto de Fernando Santos de cara triste e mudou o slogan. Do anterior "Temos selecção para ter ambição", repescou a palavra ambição: "A nossa ambição fez História. Parabéns, Portugal." O pronome possessivo "nossa" tanto serve para a selecção nacional como para o banco.

 

Os Jogos Santa Casa, que, como o Novo Banco, patrocinaram a Selecção, atamancaram visualmente um anúncio, ocupado em baixo como uma foto da equipa e técnicos festejando para outro fotógrafo. A fotografia perde a nitidez com o manto de verde e vermelho que sobe a cheio pelo anúncio. O texto escrito é melhor do que o grafismo. O título "Não foi sorte. Foi talento!" é muito simpático, vindo da maior instituição de jogos de sorte e azar do país. Assumindo a vitória como nacional, usa o plural para nos elogiar a todos através da Selecção: "Não somos só campeões da Europa, somos também campeões do esforço e da dedicação." A fechar, deixa-nos de fora do texto para, educadamente, saudar os futebolistas: "Parabéns à Selecção pela vitória."

 

Empresas que não patrocinaram a Selecção juntaram-se aos parabéns, no mesmo desculpável parasitismo de todos os portugueses, que fizeram sua a vitória. A Coca-Cola usou uma foto com dois homens vestidos à portuguesa. Um deles tem um copo do refrigerante na mão. Outro copo está pousado, em baixo. Os dois copos de Coca-Cola estão centrados no eixo vertical e um deles está de facto no centro da imagem. Como os humanos na imagem também surgem desfocados, não restam dúvidas de que o elemento mais importante no anúncio é a bebida. Quando leio o título - "Parabéns. Já temos um vencedor. Vamos celebrar!" - convenço-me de que o vencedor é a Coca-Cola e que, para celebrar, há-de ser com este refrigerante.

 

Ao menos a Coca-Cola não se assume como portuguesa. Já os publicitários de outra multinacional, o Lidl, não tiveram esse prurido. Todo o anúncio da empresa global alemã transpira patriotismo português. Os gráficos sobrepuseram a bandeira nacional nas caras de dois adeptos, ambos olhando para cima, para a vitória e o futuro risonho. O fundo é negro, para permitir o longo discurso patriótico. No título falta a vírgula: "Parabéns Portugal!" O texto tanto poderia ter sido escrito pelo Presidente da República, pelo presidente da Federação ou pelo seleccionador. Está cheio do que "nós" conseguimos: "a nossa vitória", "a fé de todos os portugueses", "este nobre povo", "empatámos, ganhámos, marcámos e acreditámos sempre", "adicionámos", "temperámos, "finalizámos abraçados, de taça erguida, cheia de orgulho nacional". Já se percebeu que aqui há metáforas, para as devolvermos ao mundo real: "adicionámos o nosso ingrediente secreto: garra" e "temperámos tudo com emoção", etc. A empresa não se esquece de assinar no fundo com o #receitaperfeita. Os publicitários, com esta verve metafórica e patriótica, convenceram-se de ter achado a receita perfeita para o anúncio.

 

A PT Empresas pegou no seu slogan actual - "Uma rede de possibilidades" - para construir o anúncio de parabéns à Selecção. O título diz "Da possibilidade à certeza". A palavra aparece mais três vezes no pequeno texto. A generalização da vitória da equipa portuguesa também aparece neste texto, preto no branco: "A taça é vossa. É nossa." Como o desenho sobre a fotografia de fundo é a taça do Euro desenhada como se fosse a "rede de possibilidades", sem dúvida de que o anúncio diz também que a taça da selecção nacional é da PT.

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