Opinião
As universidades seniores em Portugal(1)
A influência positiva destas organizações na vida dos seniores é notória. Encontramos uma melhoria da perceção do estado de saúde físico e mental nos alunos, o número de contactos sociais aumentou e consequentemente o sentimento de solidão diminuiu.
As Universidades Seniores (US) em Portugal são um grande projeto de educação ao longo da vida, envolvendo mais de 45 mil seniores, 330 organizações e 7 mil professores voluntários.
As US são "respostas socioeducativas que visam criar e dinamizar regularmente atividades nas áreas sociais, culturais, do conhecimento, do saber e de convívio, a partir dos 50 anos de idade…", de acordo com a Resolução de Conselho de Ministros de 2016 que faz o enquadramento jurídico das US e são representadas pela RUTIS.
Existem dois grandes modelos de organização das US a nível mundial, o modelo francês e o modelo inglês. O modelo francês associa as US às universidades formais, enquanto o modelo britânico desenvolveu-se tendo por base as associações sem fins lucrativos ou grupos auto-organizados. O modelo português, tendo por base o inglês, acabou por se tornar um modelo diferente porque assenta em organizações associativas ou públicas formais.
As US em Portugal têm três pilares fundamentais: as entidades promotoras, os professores voluntários e os alunos seniores.
As primeiras universidades seniores em Portugal foram criadas no início dos anos 80, porém o seu grande crescimento dá-se na primeira década dos anos 2000. Portugal tem hoje a maior rede mundial de US, com as suas 330 instituições a abranger praticamente todo o território nacional. A maioria das US são geridas por associações (65%) e as restantes 35% são promovidas por câmaras municipais ou juntas de freguesia. As US têm, em média, um funcionário remunerado e funcionam maioritariamente em instalações cedidas. Entre as disciplinas mais procuradas estão as artes, o desporto, as línguas, a informática e a história. Quase todas as US têm grupos musicais e de teatro. As mensalidades, em média, têm um custo de 12 euros.
Segundo o estudo que realizámos, os professores são de todas as idades (30% têm menos de 40 anos), maioritariamente detentores de cursos superiores, dão duas horas de aulas por semana, equilibradamente representados por reformados e ativos, estão muito satisfeitos com o seu voluntariado nas US e as suas principais motivações prendem-se com o gosto de ensinar e em ajudar o próximo.
As US são frequentadas essencialmente por mulheres, entre os 65-75 anos, reformadas ou domésticas, casadas, de todos os estratos socioeconómicos e de graus de habilitações diversos. Frequentam em média quatro disciplinas semanalmente e vão três dias por semana à universidade sénior.
A influência positiva destas organizações na vida dos seniores é notória. Novamente baseados em estudos realizados: encontramos uma melhoria da perceção do estado de saúde físico e mental nos alunos, o número de contactos sociais aumentou e consequentemente o sentimento de solidão diminuiu; houve uma redução da medicação antidepressiva tomada; os níveis de depressão são substancialmente mais baixos que a população em geral; aumentou o nível de conhecimentos, essencialmente na área digital; a autoestima subiu e os alunos sentem-se mais ativos e inseridos na comunidade.
O efeito da frequência das US é maior nas pessoas mais isoladas e com menores habilitações.
Concluindo, as universidades seniores estão presentes em praticamente todo o território português, nasceram da sociedade civil, são um exemplo excelente de voluntariado e contribuem efetivamente para a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos seniores.
(1)Dados da tese de doutoramento na Universidade de Salamanca "Universidades Seniores Portuguesas: Caracterização e desenvolvimento" de Luis Jacob, 2019.
Presidente da RUTIS - Rede de Universidades Seniores
Carta Social 2018
Mais de 71% das 6.500 entidades proprietárias dos equipamentos sociais (em que se desenvolvem respostas sociais) existentes em Portugal são entidades sem fins lucrativos, na sua grande maioria, com o estatuto de IPSS. Estes valores, absoluto e relativo, têm-se mantido sensivelmente constantes desde 2015.
Estes e outros números constam do Relatório 2018 da Carta Social - Rede de Serviços e Equipamentos, publicado pelo Gabinete de Estratégia e Planeamento do Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social.
Este relatório, assim como os anteriores, desde 2000, estão disponíveis em http://cartasocial.pt/.
Revista RIESISE
Saiu o volume 2 da Revista Iberoamericana de Economía Solidária e Innovación Socioeconómica (RIESISE), publicado pela Universidade de Huelva (Espanha).
Este número contém uma crítica à noção convencional de economia, situando-a na satisfação de necessidades num quadro de limites ambientais. Nesse sentido, apresenta diversos artigos e experiências que abrangem diferentes perspetivas e temas como a economia dos cuidados, a economia social e solidária, a economia ecológica, a sustentabilidade e práticas e formas de cooperação social (novos comuns). A revista está acessível em http://uhu.es/publicaciones/.