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Vintage, Porto e concorrência

Ao contrário do que sucede com um bom "vintage", Marx não envelheceu bem. Poucas das suas teses sobreviveram ao teste da História. No entanto, uma delas foi celebrada na passada semana com pompa e circunstância justamente no Porto.

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Marx sustentava que o capitalismo carregava em si o gérmen da sua própria destruição. A concentração capitalista levaria o mercado a redundar em monopólio e, uma vez extinta a concorrência, a sociedade estaria pronta para evoluir para uma fase superior. Os factos têm dado razão ao velho Marx: a economia de mercado sem regras descamba, mais tarde ou mais cedo, na concentração monopolística e nos seus abusos.

 

Quando esta verdade começou a morder consumidores e empresários, houve que desenvolver uma cura e surgiram os sistemas de defesa da concorrência. O Porto acolheu na última semana, sob a égide da International Competition Network e organização da Autoridade da Concorrência (AdC), representantes de mais de cem jurisdições que se reuniram para debater as últimas novidades dos respetivos sistemas de defesa da concorrência e definir os seus próximos passos.

 

Albânia, EUA, Japão, Gâmbia, Polinésia, México, Dinamarca, Portugal, Chile, África do Sul, Hong Kong… É impressionante testemunhar como se declina a economia de mercado em tantos idiomas, unidos, não obstante, pela mesma argamassa de lucidez: a economia de mercado não é perfeita e o mercado, se deixado à solta, é como um condutor ébrio - depois de matar uns quantos, acabará por se matar a si mesmo.

 

Unidos ainda pelo mesmo norte: a teimosia pela liberdade, a insistência no postulado segundo o qual são os consumidores que devem escolher o que desejam consumir, são os produtores que devem decidir o que querem produzir, e não um qualquer burocrata telecomandando as preferências individuais.

 

Em Portugal, temos percorrido uma rota clara. Aqui e ali com um soluço, porventura, mas com a paulatina criação de uma cultura de concorrência que vai fazendo o seu caminho, o primeiro passo para um caldo de meritocracia que todos ambicionamos, ou deveríamos ambicionar.

 

A AdC foi escolhida para acolher este evento, com seis centenas de delegados de todo o mundo. Mais importante, foi escolhida pelos seus pares. Sinal de respeito, maturidade e responsabilidade. Numa época em muito se fala de futebol (vivam, sem dúvida, o Ronaldo e o Mourinho!) e em que o país por vezes se parece esgotar num esférico, não se pode deixar passar em claro um tal sucesso. Porque o foi e porque, felizmente, os nossos talentos não se esgotam na bola. Vão muito, muito além.

 

A falta de competitividade da economia portuguesa é a nossa Némesis. Tem sido combatida, a mais das vezes, atirando dinheiro para os problemas. Talvez seja chegado o momento de apostar no incremento estrutural da competitividade.

 

Com o sucesso da ICN 2017, a AdC deu um passo firme nessa direção. Que continue, porque precisamos. Começando no Estado e terminando no consumidor.

 

Advogado, sócio da Vieira de Almeida & Associados

 

Este artigo está em conformidade com o novo Acordo Ortográfico 

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