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18 de Fevereiro de 2020 às 19:46

Uma década de ESG

ESG ocupa o papel central enquanto um dos principais critérios sob os quais os investimentos serão feitos na próxima década. Será mais fácil na teoria do que na prática?

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Tal como todos os anos, a elite global composta por políticos de estatuto elevado, representantes de bancos centrais e proeminentes líderes empresariais, reuniram-se na pequena cidade de Davos, na Suíça, para o encontro anual do Fórum Económico Mundial para discutir as mais prementes questões globais. Este ano, houve diversas questões a abordar com o aumento das tensões no Médio Oriente, as guerras comerciais e receios de uma epidemia. No entanto, um tópico em particular conquistou a atenção dos presentes e mais do que em qualquer outro ano anterior: sustentabilidade e questões ambientais, sociais e de governança (da sigla em inglês, ESG). O ano de 2020 marca um ponto de viragem para ESG, uma vez que os fatores ESG assumem o papel central para se tornarem uma força mobilizadora dos mercados, apoiados não só por políticos, como também pelos principais agentes do setor financeiro.

A destacar, a maior gestora de ativos do mundo, Blackrock, comprometeu-se a pôr um maior foco na sustentabilidade e nos fatores ESG na sua abordagem de investimento, seguindo o conceito de “stakeholder capitalism”. Este mesmo conceito considera como responsabilidade das empresas não só a criação de valor para os seus acionistas, mas também para todos os seus stakeholders, isto é, todas as partes interessadas, como funcionários, fornecedores, comunidades locais e o ambiente em que opera no geral. Este compromisso não só é de enorme valor simbólico, mas também mostra que os gestores de ativos veem o valor a ser gerado que, a longo prazo, pode ser gerado através destas práticas e que existe realmente procura por parte dos investidores para incluir investimentos ESG nos seu investimentos. O mercado com foco em soluções climáticas deverá duplicar até 2025, tornando as oportunidades de criação de valor verdadeiramente atrativas.

Embora investir em empresas que têm um impacto positivo nos seus stakeholders pareça um conceito simples na teoria, existem algumas complexidades que surgem quando posto em prática. Um dos vários problemas é encontrar uma maneira eficiente de classificar as empresas no que diz respeito às suas práticas ESG. Onde está traçada a linha que determina se uma empresa está ou não em conformidade com os requisitos ESG? Atualmente, diversas empresas de análise de dados focam-se em enfrentar este problema, procurando definir os critérios a ser considerados de modo a criar um sistema de classificação para as empresas. Hoje em dia, Sustainalytics é considerada a principal fornecedora de dados no que diz respeito às métricas ESG das empresas. Outras fontes incluem MSCI e Refinitiv.

Outra dificuldade associada à criação deste sistema de classificação é a falta de dados disponíveis para avaliar as empresas. Os relatórios corporativos e a divulgação por parte das empresas do impacto nos stakeholders encontra-se ainda numa fase muito inicial. A adoção dos padrões estabelecidos pelo SABS (Sustainability Accounting Standards Board), que implica que os dados ESG das empresas se tornem financeiramente materiais e necessitem de ser comunicados, ainda não está amplamente divulgada, tornando a qualidade dos dados disponíveis muito limitada, que, por sua vez, causa grandes discrepâncias nas classificações finais.

Não restam dúvidas de que a próxima década será, em grande parte, moldada pela tendência do investimento sustentável. Com grandes empresas tal com a Blackrock a aliarem-se à iniciativa, empresas de todo o mundo irão ter de se adaptar aos novos padrões do “stakeholder capitalism” e descobrir uma maneira de reportar e divulgar efetivamente os seus impactos sociais e ambientais caso pretendam permanecer competitivos e atraentes para investidores.

 

Não restam dúvidas de que a próxima década será, em grande parte, moldada pela tendência do investimento sustentável.

 

O mercado com foco em soluções climáticas deverá duplicar até 2025.
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