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Sorriso 4.0 – A saúde oral digital

Teremos de ser nós, médicos-dentistas, os verdadeiros motores e pedagogos das vantagens que a tecnologia e o digital trazem para todos os "stakeholders". Estou convencido de que aqueles que investirem nas novas tecnologias serão os que terão mais sucesso no futuro.

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Como a História demonstra, há milhares de anos que as civilizações tratam os seus dentes. Poucas pessoas sabem que o primeiro Presidente dos EUA, George Washington, usava uma prótese dentária fabricada com dentes de cavalo incrustados que, durante a noite, eram embebidos em vinho do Porto, para amolecer a madeira e não magoar. Recentemente comentei este episódio num TEDx Talk (https://www.youtube.com/watch?v=Z3z2DK15KQs) na universidade SOAS, University of London (https://www.soas.ac.uk), com o título "Positive Dentistry", para ilustrar como as tecnologias e a sua evolução estão a mudar radicalmente a nossa profissão com benefícios evidentes para a saúde oral.

Sou dentista há 21 anos e tenho presenciado grandes avanços a nível tecnológico, mas nada se assemelha à última década. Hoje em dia, a utilização de impressoras 3D é algo que as pessoas aceitam com toda a naturalidade. Já no final dos anos 90, a empresa americana AlignTechnology começou a utilizar a estereolitografia ou STL para criar um conceito inovador. O objetivo principal era a fabricação de aparelhos ortodônticos invisíveis. Hoje, esta empresa vale mais de mil milhões de dólares e está cotada na bolsa de Nova Iorque (https://www.forbes.com/sites/michelatindera/2017/04/25/out-of-silicon-valley-a-billion-dollar-orthodontics-business-built-with-plastic-and-patents/#6eb82e230c2f). Eu e a minha equipa trabalhamos com esta tecnologia há cerca de 14 anos...

 

Um estudo (https://www.ncbi.nlm.nih.gov/labs/articles/26394340/) realizado em 2015 compara o tempo entre um tratamento tradicional, entre um dentista e um laboratório, na confeção de uma coroa dentária vs. um protocolo digital: este estudo mostra o "workflow" digital sendo 16% mais eficiente, diminuindo significativamente tanto o tempo em consultório como o tempo no laboratório. Em 2017, acreditamos que esta diferença é ainda maior. Hoje em dia, é possível atestar que um "workflow" 100% digital é avassaladoramente mais rápido, mais ergonómico, consome menos papel e é mais fidedigno; isto, se bem aplicado e utilizando as tecnologias certas.

Apesar de estes equipamentos e sistemas exigirem algum investimento, não tenho dúvida de que a eficiência criada se vai traduzir de forma muito positiva numa melhoria dos tratamentos, bem como nos resultados financeiros do consultório, clínica ou hospital.

É de referir que em termos legais é mais fácil manter todos os registos das fases do tratamento em perpetuidade e que a origem dos problemas é mais facilmente controlável.

Segundo a OMS, Portugal tem um número excessivo de médicos-dentistas por cada 1.000 habitantes. Além disto, este ano perto de 700 dentistas entraram para o mercado de trabalho em Portugal (https://www.omd.pt/noticias/2017/07/numeros-ordem-conclusoes). O que será destes recém-licenciados, que nasceram com os telemóveis nas mãos, verem-se obrigados a trabalhar sem tecnologia para manter os custos baixos?

 

Paradoxalmente há uma surpreendente dissonância entre as realidades vividas pelos novos dentistas e as novas tecnologias no mercado da saúde oral no mundo: "O rápido avanço da tecnologia tem afetado cada aspeto das nossas vidas, e isto inclui a medicina dentária." Esta citação de Ed Shellard, vice-presidente, vendas e marketing da Carestream Dental (http://carestreamdental.com/us/em), uma das maiores empresas do setor, não pode ser mais verdadeira e atual. No entanto, receio que exista um desfasamento significativo entre o que se ensina nas faculdades e a "realidade digital" da saúde oral. Faço um apelo às faculdades para incluírem disciplinas de medicina dentária digital no seu programa, de forma que estes jovens possam ter mais oportunidades no mercado de trabalho nacional bem como internacional. Portugal podia ser pioneiro e liderar esta revolução digital na medicina dentária!

 

Teremos de ser nós, médicos-dentistas, os verdadeiros motores e pedagogos das vantagens que a tecnologia e o digital trazem para todos os "stakeholders". Estou convencido de que aqueles que investirem nas novas tecnologias serão os que terão mais sucesso no futuro.

 

Medico-dentista e diretor clinico da White Clinic

 

Artigo em conformidade com o novo Acordo Ortográfico

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