Opinião
Diário de bordo do último ano
É um pouco redutor fazer o balanço do ano no dia em que acaba o mundo. Mas foi um gentil pedido, e jamais recusaria um último desejo.
Lisboa, 21 de Dezembro 2012
É um pouco redutor fazer o balanço do ano no dia em que acaba o mundo. Mas foi um gentil pedido, e jamais recusaria um último desejo. Espero que o universo como o conhecemos não tenha acabado e que esteja, aí, alguém a ler isto.
2012 começou (teimosamente) no dia 1 de Janeiro com um desejo de Pinto da Costa nas capas dos jornais desportivos: "Espero que ninguém pague 100 milhões pelo Hulk" - Pimba! E realizou-se. Não é por acaso que lhe chamam o Papa. O ano avançou, aos soluços, até ao dia 13 de Janeiro, quando o Costa Concordia afundou e o mundo ficou a conhecer o Comandante Francesco Schettino. O Comandante abandonou os passageiros, enquanto o barco se afundava, depois de ter feito uma manobra arriscada, e ficou a assistir à tragédia, sentado numa rocha, enquanto falava ao telemóvel com a mãe. Durante o resto do ano iríamos ouvir falar de mais gente que veio da escola Goldman Sachs.
Fevereiro entra seco e chateado por antecipar um Carnaval sem feriado. Não chove em Portugal desde um dos inícios do processo Casa Pia e a agricultura está à míngua. A ministra Cristas apela à fé em Deus e à oração, dado que apenas dispunha da previsão meteorológica de Gaspar. A 11 de Fevereiro, morre a cantora Whitney Houston e deixa uma fortuna em notas enroladas.
Março chega frio com a vitória de Putin (4 de Março) nas eleições para Presidente da Rússia. Foram as eleições mais livres de que há memória na Rússia, o que, em termos democráticos, é manifestamente pouco.
Abril começa com mentiras, e tretas, e assim irá continuar, atingindo o ponto mais alto no dia 25.
De repente, já estamos no segundo terço do ano. Maio já cá está e o tempo galopa, qual taxa de desemprego. No dia 6 de Maio, António José Seguro é eleito presidente da França, com 51,62% dos votos, derrotando Nicolas Sarzoky. Pelo menos foi o que me pareceu na altura.
Chega Junho e o Hemisfério Norte e o Hemisfério Sul trocam de roupa. No dia 9 de Junho, Espanha formaliza um pedido de ajuda financeira (100 mil milhões de euros) para a banca. Como garantia do empréstimo, Mariano Rajoy tenta dar a colecção de marfim da Rainha Sofia. Surgem escândalos com Miguel Relvas e as pessoas ainda ligam.
E eis-nos a 1 de Julho. Para espanto de metade da troika, ainda estamos vivos, começou o Euro 2012 e esquecemos tudo. Colocamos o contador a zeros e vamos ver a bola. Perdemos com a Espanha na meia-final e fazemos de novo a piada parva da colecção da Rainha Sofia. Entretanto, no dia 20 de Julho, morre aos 92 anos, o historiador e apresentador de televisão José Hermano Saraiva. Tem à sua espera milhares de personagens históricos que negam ter estado onde ele diz que estiveram.
Entra Agosto. No dia 12, milhares de moscas tsé-tsé morrem de sono ao assistir à cerimónia de encerramento dos Jogos Olímpicos de Londres. O mês fecha em beleza. Num escorrega, o PM anuncia a retoma para o início do ano de 2013. Infelizmente, devido ao fim do mundo, não vamos poder usufruir da retoma.
Setembro é o mês do terramoto. No dia 7 de Setembro, o país acorda para o tsunami da TSU. No primeiro momento, a taxa recua consideravelmente para as empresas para depois avançar com violência sobre as famílias, não deixando sobreviventes. É um dia sem retorno, como nos filmes, quando descobrimos quem é o assassino e revemos tudo com outros olhos. No dia 15 de Setembro, centenas de milhares de manifestantes em todo o país mostram o seu desagrado contra o governo mas, subitamente, uma moça abraça um polícia, e a cena, de tão fofa, funciona quase como o gatinho branco que apetece dar miminhos e as pessoas ficaram molinhas, a indignação e a raiva passou e o Governo ainda lá está.
Saltamos para Outubro - no dia 15 - O Governo apresenta o Orçamento do Estado para 2013. Recua no aumento da TSU, mas vinga-se com uma carga de impostos que é preciso agarrar a doce Adriana para evitar que ela vá a casa do polícia para o encher de pancada.
Novembro é mês de eleições. No dia 7, Barack Obama é reeleito presidente nos Estados Unidos, com 59,2 milhões de votos e no dia 15, Xi Jinping é escolhido como novo secretário-geral do Partido Comunista da China e novo Presidente da República Popular da China com onze votos - a contar com os 3 votos que vale o voto dele.
Chegámos a Dezembro! Parabéns. Sempre são 21 dias para gozar. O tema em destaque, e a pergunta que mais vezes me fazem, é: "gostas, ou não, do Efromovich? Parece-te uma pessoa como deve ser? Achas que é sério? Hum? É estranho". Em vez de vender, dá a sensação que vamos casar a TAP.
Deixei para o fim, do mundo, o meu Sporting. Enquanto escrevo este diário de bordo do ano de 2012, tenho perante mim o postal de Natal do meu clube. É a última ceia com o presidente do Sporting no lugar do Salvador. É o milagre da multiplicação das dívidas. O Eduardo Barroso é o Judas. Sporting e Última Ceia… no Natal... Para nós acaba sempre tudo mais cedo.
Termino com uma revelação: o Gaspar e o presidente do Sporting são irmãos - tanta incompetência tem de ser genética. Venha de lá o fim disto.