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Capital de Risco numa só tarde

É já amanhã que a Associação Portuguesa de Capital de Risco (APCRI) vai organizar o Congresso de Capital de Risco, no qual se pretende debater o estado e a estratégia da indústria de capital de risco no nosso país.

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Apesar de relativamente recente, o capital de risco é uma indústria global com efeitos provados. Uma indústria global, em que os ativos totais sob gestão representam hoje mais de 30 vezes o PIB português, concentrados no mercado norte-americano (57% do total) e europeu (24% do total). Uma indústria com efeitos provados, quanto ao retorno do capital investido e, particularmente, quanto ao aumento da competitividade das empresas participadas - geração de inovação, melhoria da eficiência operacional, redução da taxa de mortalidade.

 

Tal como as empresas, que têm diversos tamanhos e estratégias, também os fundos de capital de risco estão segmentados: uns investem no início do ciclo de vida empresarial ("venture capital"), outros investem em empresas estabelecidas; ou segmentam-se por setores de atividade, geografias, tipos de operações, produtos ou classes de ativos. Em comum, investem em empresas que ajudam a crescer e gerar riqueza - e, claro, pretendem com isso ganhar dinheiro. Sem surpresa, a maioria do capital é aplicado em empresas que estão entre estes extremos (start-ups e grandes empresas): as PME, que absorvem 85% dos investimentos de capital de risco na Europa.

 

Em Portugal, a indústria é ainda mais jovem e imatura, com progressos recentes mas também com inibidores estruturais ao seu potencial. Em 2015, os ativos sob gestão ascendiam a 4,2 mil milhões de euros (2,3%, do PIB), estimando-se que ultrapassem os 6 mil milhões de euros se considerados os fundos sediados no exterior. Além do aumento expressivo dos ativos sob gestão, numa só década mais do que duplicaram os operadores e fundos, com o surgimento de novos "players", privados e independentes. Mas entre alguns "enganos" estatísticos, um mercado empresarial com pouca dimensão e um severo constrangimento (afunilamento) das fontes de financiamento (historicamente concentradas no Estado e nos bancos), existe muito a fazer e muito a mudar para que a indústria possa desenvolver o seu efetivo potencial.

 

Mais: num contexto económico em que a maioria das PME portuguesas tem um défice de capitalização e um excesso de endividamento, fruto de uma conjuntura complexa e de uma forte desalavancagem, o capital de risco pode - e deve - ser parte principal da solução para a capitalização das empresas e para o consequente estímulo ao investimento, criação de emprego e geração de riqueza.

 

Sabe-se que a indústria é tradicionalmente discreta e silenciosa e por isso não parece fácil debater, em público, muitos destes temas - ainda mais numa só tarde. Mas também não é todos os dias que se consegue ter à mesa, com um microfone ligado, alguns dos principais decisores, operadores, gestores e empreendedores investidos. Tem algum risco? Sim, mas todos estamos habituados a corrê-los.

 

Presidente da Associação Portuguesa de Capital de Risco

 

Artigo em conformidade com o novo Acordo Ortográfico

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