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07 de Agosto de 2016 às 18:05

Brexit - Uma realidade

Acordei na madrugada de 24 de Junho com a triste notícia de que o Reino Unido, país onde estou a estagiar este verão, decidiu sair da União Europeia.

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Surpreendido com o resultado, vesti-me e fui para o trabalho às 5:30 da manhã. Ao chegar, deparei-me com o banco já em plena atividade e os telefones a tocarem sem parar.

 

As estatísticas da noite anterior tinham falhado na previsão do resultado e apanhado a Europa de surpresa. O que se sucedeu foi um dos dias mais caóticos de que tenho memória. Os clientes estavam perdidos, preocupados, e, acima de tudo, à procura de respostas. A maioria queria vender a moeda local, o sterling, com medo de que a desvalorização de 10% em apenas algumas horas, a maior nos últimos 30 anos, se acentuasse ainda mais. Uns compravam ouro, um "safe haven" em tempos de crise, outros, queriam fechar todas as posições que tinham no mercado. O receio de que o Reino Unido já não viesse a fazer parte da União Europeia era agora uma realidade.

 

Passado um mês, a situação que se vive em Londres é agora bem diferente. Os mercados acalmaram e voltaram a níveis pré-Brexit, com o índice FTSE 100 a chegar ao valor mais alto dos últimos 11 meses e as expectativas melhores do que antes esperado.  Mesmo assim, a atividade de M&A no Reino Unido foi fortemente afetada, tendo caído 70% após o resultado do referendo. Esta área depende muito da confiança que os investidores têm no mercado e tempos voláteis como os que vivemos agora deixam pouca margem de segurança. É verdade que a desvalorização da libra pode trazer oportunidades para o Reino Unido, mas os investidores terão de medir isso contra o incerto ambiente macroeconómico.

 

Com David Cameron a sair do comando da força política inglesa e os dois maiores impulsionadores do movimento pró-Brexit, Nigel Farage e Boris Johnson, a desistirem da corrida à famosa residência de Downing Street 10, o lugar foi ocupado por Theresa May, antiga secretária de Estado. May deixou claro que o Brexit era uma realidade inevitável e que teria de ser aceite pelo país inteiro. A eleição de May trouxe estabilidade ao mercado e indicações de um novo programa económico com mais "quantitative easing" até ao final do ano para estimular a economia. O Banco de Inglaterra no mês de Julho sinalizou um futuro corte nas taxas de juro, o primeiro nos últimos sete anos. (Note-se que as mesmas já estão num mínimo histórico de 0,5%).  A União Europeia através de Merkel e Hollande mostrou menos rigidez para que seja ativado de imediato o Artigo 50 colocando menos pressão a May.

 

Será que a União Europeia está a baixar as defesas, revelando a importância que o Reino Unido tinha para o crescimento e estabilidade do "single market"? A União Europeia perde uma das nações que mais contribuíram para o seu crescimento e que tantos bens importa de países europeus, nomeadamente a Alemanha.

 

Na verdade, ambos precisam igualmente um do outro. Este tema vai levar alguns anos a resolver, considerando que rever 43 anos de tratados não será tarefa fácil. A Inglaterra terá de negociar termos para a troca de bens, serviços e circulação de pessoas. Corre ainda o risco de perder o passaporte que permite aos bancos sediados em Londres, que juntamente com outras entidades financeiras representam 12% do PIB inglês, de acederem ao "single market".

 

Toda esta situação leva-nos a pensar se a saída do Reino Unido motivará outros países a seguirem o mesmo caminho e saírem da União Europeia.

 

Enfim, teremos pela frente um processo negocial longo e difícil, certamente interessante e com um resultado que será seguramente positivo para ambas as partes.

 

Membro do Nova Investment Club

 

Este artigo está em conformidade com o novo Acordo Ortográfico

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