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29 de Dezembro de 2014 às 10:00

A marcha imparável da dívida de empresas de mercados emergentes

A dívida de empresas de mercados emergentes (ME) ultrapassou o mercado de dívida soberana de ME, sobrepondo-se até ao mercado high yield norte-americano. Beneficiando com o aumento das yields, com a maior diversificação setorial, regional e de emitentes e com a menor duração, a dívida de empresas de ME proporciona um excelente complemento para a dívida soberana de ME em moeda forte. Os riscos gerais geopolíticos e de incumprimento são geridos no fundo segundo uma sólida abordagem bottom-up de seleção de títulos.

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Qual é a dimensão do mercado de obrigações de empresas de ME?


O crescimento deste mercado é absolutamente extraordinário. Durante a última década, o montante de capital em dívida por reembolsar de empresas de ME em dólares norte-americanos quintuplicou de 267 mil milhões para 1,6 milhões de milhões de dólares. Mesmo há cinco anos, o mercado era pouco mais de um terço do que é atualmente. Isto coloca-o bastante à frente tanto do mercado de dívida high yield norte-americano como do mercado de dívida soberana de ME.

As novas emissões em dívida de ME também são dominadas pela dívida de empresas. Tal como em 2013 e 2014, a dívida de empresas de ME foi este ano responsável por cerca de quatro quintos da emissão total dos mercados emergentes em dólares norte-americanos, segundo a nossa pesquisa efetuada por terceiros. Por outras palavras, a emissão de dívida soberana de ME de 265 mil milhões de dólares nos primeiros nove meses de 2014 foi mais do triplo da emissão de dívida soberana (76 mil milhões de dólares).

Este crescimento a um prazo mais alargado significa que os investidores já não podem ignorar a dívida de empresas de ME como sendo uma classe de ativo de rendimento fixo normal. A equipa de Dívida de Mercados Emergentes da Fidelity acredita firmemente que a dívida de ME em moeda forte é um complemento viável da dívida soberana de ME, e os investidores deverão olhá-la como um elemento integral de qualquer carteira de dívida de ME.

Porque é que se deve complementar a dívida soberana com a de empresas?

Há pelo menos quatro boas razões para diversificar a dívida soberana de ME com dívida de empresas de ME nos atuais mercados:

• A dívida de empresas de ME tem basicamente investment grade com um rating BBB, e é, na sua maioria, denominada em dólares norte-americanos. A perceção comum de que a dívida de empresas de ME é de baixa qualidade é errada; aproximadamente dois terços têm investment grade e apenas um terço é high yield.

• A dívida de empresas de ME beneficia com a duração consideravelmente menor comparativamente à dívida soberana, reduzindo o potencial impacto do aumento das taxas de juro – que se prevê nos EUA durante o próximo ano. A duração para a dívida de empresas de ME é de 5,2 anos face a sete anos para a dívida soberana.

• Apesar deste perfil de duração mais defensivo, nos 5,2 anos a dívida de empresas de ME ainda oferece uma yield atrativa. Durante a última década, as yields da dívida de empresas de ME situaram-se consistentemente acima dos 5%, variando entre os 5,2% e os 9%. Em comparação com a dívida de empresas norte-americanas, a alavancagem bruta é semelhante à da dívida com investment grade e inferior à da dívida high yield . No entanto, durante a história recente, tem havido uma recuperação consistente dos spreads, que oscilam entre aproximadamente os 100 pontos base para o investment grade e os 200 pontos base para a dívida high yield.

• A dívida de empresas de ME é bem diversificada e equilibrada tanto do ponto de vista setorial como regional. Os maiores setores (por ordem descendente) são o financeiro; petróleo e gás; tecnologia, media e telecomunicações; utilities; bens de consumo; e imobiliário, mas nenhum deles representa mais de um terço do total. A América Latina, a Ásia excluindo a China, e a Europa Central e de Leste representam cada uma mais de um quarto do índice da dívida de empresas de ME, enquanto o outro quarto se divide entre a África, o Médio Oriente e a China. Isto cria amplas oportunidades para escolher os melhores créditos com vista a beneficiar com as histórias de crescimento dos mercados emergentes.

Qual é a robustez do perfil risco-retorno para esta classe?

Dadas as caraterísticas acima referidas, a eficiência do risco para a dívida de empresas de ME compara favoravelmente com a dívida soberana de ME. O seu perfil de rating é ligeiramente melhor e a sua volatilidade e duração são menores, no entanto o seu retorno é semelhante ao da dívida soberana de ME. Como resultado, a dívida de empresas de ME tem um retorno ajustado ao risco mais elevado, indicado pelo rácio Sharpe mais elevado na tabela abaixo.

A dívida de empresas de ME também tem uma exposição menos concentrada aos países extremamente voláteis. A Rússia, Turquia, Venezuela e Ucrânia representam, respetivamente, cerca de 9%, 7%, 6% e 2% do índice da dívida soberana de ME, face a, respetivamente, 5%, 4%, 0% e 1% no índice da dívida de empresas de ME. Este último reflete as ponderações mais elevadas para os países mais estáveis incluindo Hong Kong, a Coreia do Sul, os Emirados Árabes Unidos, Singapura e o Qatar (todos entre 4% e 6%). Isto explica, em grande medida, a razão pela qual a volatilidade dos spreads – o risco do crédito do mercado – do universo das obrigações de empresas de ME tem tido um comportamento significativamente melhor que as suas homólogas soberanas de ME.

Como é que gere o risco da sua carteira?

Atualmente, os dois principais fatores de risco da dívida de empresas de ME são o risco de incumprimento e o risco geopolítico. Abordamos ambos estes riscos com uma cuidadosa seleção de títulos, evitando regiões geográficas problemáticas e assegurando-nos de que investimos em beneficiários das tendências ou desenvolvimentos globais.

Neste momento o fundo tem uma duração inferior à do índice mas uma yield-to-maturity mais elevada resultante de um risco de crédito ligeiramente maior. A seleção de empresas individuais é a marca do nosso fundo, que conta apenas com 167 empresas, em comparação com as 1141 do índice, tendo consequentemente uma participação muito ativa.

Esta abordagem é baseada numa pesquisa fundamental centrada no risco idiossincrático, efetuada pela nossa equipa de Pesquisa de Crédito que conta com 15 profissionais, uma das maiores do mercado, e que é apoiada por cinco analistas financeiros de ME, bem como pelas equipas de pesquisa qualitativa e quantitativa mais geral da Fidelity.

Acreditamos que uma das nossas principais vantagens estruturais reside no modelo da nossa pesquisa de crédito, que está largamente alinhada por setor, não por mercado desenvolvido vs enfoque nos ME. Num mundo com um elevado grau de atividade de F&A entre os mercados desenvolvidos e emergentes, o nosso modelo permite que um analista de carreira de um setor fale igualmente com o comprador e com o vendedor em qualquer transação de F&A. Acreditamos que isto nos dá visões únicas quando efetuamos recomendações de carteira de elevado impacto. Além disso, vivemos num mundo global no qual as obrigações de empresas de ME são muitas vezes fornecedores ou utilizadores de produtos e serviços de mercados desenvolvidos. Também tem de se compreender como é que os modelos de negócio das obrigações de ME podem evoluir à medida que se aproximam da sua maturidade. Ter uma visão da dinâmica setorial global das obrigações de empresas é, pois, fundamental para se ter sucesso.

No entanto, escolher os vencedores neste mercado depende de fato inteiramente de uma análise meticulosa da informação individual do crédito, uma vez que fatores específicos das empresas podem levar a grandes divergências de desempenho mesmo dentro do mesmo país. Este ano, por exemplo, a dívida do produtor de açúcar brasileiro Virgolino de Oliveira caíu 72% YTD enquanto enfrenta dificuldades para pagar as suas dívidas e os preços do açúcar atingem os mínimos dos últimos anos. Contudo, as obrigações emitidas pela empresa brasileira Marfrig Overseas – igualmente do setor de alimentação & bebidas e o quarto maior produtor mundial de carne de vaca – valorizaram 16% devido ao aumento de exportações para a Rússia, no seguimento das sanções norte-americanas e europeias contra a Rússia e da subsequente proibição de importações de alimentos dos EUA e da Europa por parte da Rússia. Isto mostra que as condições macroeconómicas adversas num país (Rússia) podem beneficiar empresas de outras regiões (Brasil).

A nossa pesquisa permitiu-nos evitar dívida de empresas com fraco desempenho de nomes tais como a Virgolino Oliveira, o African Bank sul-africano e a Agile Property chinesa, todas elas emitentes repetentes com diversos obrigacionistas em circulação, cujos preços das obrigações começaram a cair quando os riscos se tornaram visíveis ao mercado. Uma grande vantagem que temos é a nossa capacidade para analisar as empresas que são desconhecidas ou pouco pesquisadas pelo mercado mais geral e investir naquelas em que vemos potencial, tais como o fabricante chinês de laptops Lenovo, A GEMS Education dos Emirados Árabes Unidos o a utility chilena AES Gener – emitentes pela primeira vez (os dois primeiros dos quais não tinham qualquer rating) que registaram um desempenho forte quando o mercado recuperou.

Em todos os horizontes de tempo desde a sua criação, o nosso fundo bateu o índice e a maioria dos nossos concorrentes, o que, na nossa opinião, valida a nossa abordagem bottom-up e baseada na pesquisa. 

* Gestor da carteira do Fidelity Funds Emerging Markets Corporate Debt Fund

 

(Este artigo foi redigido ao abrigo do novo acordo ortográfico)

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