Opinião
A hora decisiva para Moçambique
Sem a formação de quadros locais, os empresários não conseguem expandir os seus negócios e as potencialidades de crescimento não são aproveitadas. Por outro lado, a adaptação do sistema educativo tradicional a este novo paradigma não é uma resposta suficientemente rápida às necessidades da economia
Moçambique tem apresentado um crescimento económico admirável, fomentado por investimentos importantes na exploração de matérias-primas. Esta onda de crescimento pode vir a traduzir-se no desenvolvimento sustentável do país se houver um esforço de formação de recursos humanos locais.
A economia global atravessa um período de turbulência. No entanto, Moçambique está a percorrer o caminho inverso, com as previsões de crescimento económico para 2013 do FMI a serem revistas em alta, de 7,2% para 8,4%. Esta onda de crescimento é suportada principalmente pelo investimento na exploração de gás e carvão.
No entanto, a extracção de matérias-primas per se não é suficiente para fomentar o desenvolvimento económico sustentável. Nesse sentido, o caminho natural é a apropriação das fases seguintes da cadeia de valor onde estas matérias-primas se inserem, bem como o desenvolvimento de sectores de actividade económica que configuram um veículo de diversificação das exportações, nomeadamente a produção de bens manufacturados e o turismo. Em concreto, Moçambique poderá ser um dos maiores beneficiários da integração económica no âmbito da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), tanto pela abertura de novos mercados, como pela integração do país na rede de clusters turísticos do sul de África, actualmente adstrita à África do Sul.
Os novos sectores caracterizam-se por serem intensivos em mão-de-obra especializada e requererem gestão qualificada. Assim, só haverá interesse por parte dos empresários em investir nestas áreas de negócio se tiverem acesso a recursos humanos locais com as qualificações necessárias para exercer as suas funções. O crescimento dos sectores não transaccionáveis – nomeadamente a banca, as telecomunicações e o sector público – coloca uma pressão adicional na procura por estes quadros.
Perante este novo paradigma, os agentes económicos podem tomar uma postura passiva, ou apostar na formação dos seus recursos humanos. A primeira opção tem um impacto adverso no desenvolvimento do país. Sem a formação de quadros locais, os empresários não conseguem expandir os seus negócios e as potencialidades de crescimento não são aproveitadas. Por outro lado, a adaptação do sistema educativo tradicional a este novo paradigma não é uma resposta suficientemente rápida às necessidades da economia. Assim, a par do investimento em educação, urge encontrar uma solução com efeitos imediatos, que consiga dar às pessoas as competências que elas necessitam para integrar rapidamente o mercado de trabalho ou adaptar-se a novas posições ao longo da sua carreira.
Neste sentido, é prioritário apostar na formação de adultos, com um forte cariz prático e de qualidade, através da atribuição de competências técnicas e de gestão. Do mesmo modo, a procura por mão-de-obra estrangeira deve ser activa e, ao mesmo tempo, selectiva, assumindo um compromisso com esta estratégia de formação e com o desenvolvimento dos novos sectores económicos.