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28 de Novembro de 2018 às 20:21

A moralidade dos negócios

Enquanto agentes aglutinadores de pessoas, as empresas podem assumir-se como promotores do bem-estar social e da estabilidade, começando por ser relevantes para os seus públicos.

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Dias após o discurso "corrosivo" de Tim Cook no Parlamento Europeu, em que alertou para a existência de uma "crise de privacidade" - apontando o dedo às multinacionais que recolhem os dados pessoais dos seus utilizadores - parece-me adequado fazer uma breve reflexão sobre a moralidade dos negócios. O que está em causa é colocar os lucros à frente da privacidade das pessoas.

As empresas são, reconhecidamente, o grande motor da economia mundial. Sejam elas PME ou grandes empresas, são elas que criam postos de trabalho - talvez a única forma de criar emprego - diretamente, e indiretamente, através dos seus impostos. Também colocam a inovação ao serviço das pessoas e geram a riqueza necessária para prosperar, para sustentar as economias familiares e, consequentemente, os Estados. Apesar disto, nem sempre as empresas gozam de uma grande reputação na sociedade. Ora porque são um mau empregador, ora o lucro é o seu único "valor", ora porque uma minoria não cumpre as mais elementares regras de viver em sociedade e o todo fica prejudicado pelas generalizações. É certo que há muitas e boas exceções, mas também é verdade que tanto numa, como nas outras - nas boas e más - situações a reputação é, antes de mais, um reflexo do trabalho das lideranças. E é aqui que devemos pensar a moralidade dos negócios.

 

Porque para além do "scorecard" ou dos resultados do trimestre, temos a relevância de uma empresa junto dos nossos stakeholders - colaboradores, clientes, parceiros, comunidade, acionistas. A relevância vai muito para lá dos lucros que as empresas têm de dar ao acionista/proprietário. Também se incluem neste perímetro - da relevância - aquilo que é o "giving back" aos colaboradores, aos parceiros, aos clientes e à comunidade onde está integrada. Tudo isto assume maior importância no período de instabilidade geopolítica, de fenómenos de populismo e conflito social que vivemos. Enquanto agentes aglutinadores de pessoas, as empresas podem assumir-se como promotores do bem-estar social e da estabilidade, começando por ser relevantes para os seus públicos, mantendo essa relevância através de estratégias orientadas para o longo prazo e para o bem comum. Tudo isto dentro de uma conduta e de um quadro ético, assente em valores profundamente humanistas, em vez de apenas capitalistas.

 

Esta é uma opinião que tem vindo a ser sedimentada pela experiência profissional que tenho vivido num grupo com mais de 200 anos de atividade, que gere as suas operações numa lógica de longo prazo, em que o mote sempre indicado pelo nosso presidente, Xavier Huillard, é "The Real Success is the success you share". Os nossos valores já nos impediram de abraçar projetos economicamente muito apetecíveis, mas igualmente penalizadores do desenvolvimento da empresa que queremos ser.

 

Sejamos relevantes, nunca abdicando de pensarmos a cada momento, a cada operação, aquilo que queremos ser junto dos nossos "stakeholders". Querer ser relevante no longo prazo é uma escolha, muitas vezes sacrificando o "scorecard" e os resultados do trimestre. 

 

CEO Axians Portugal

 

Artigo em conformidade com o novo Acordo Ortográfico

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