Opinião
Estamos do lado do problema ou da solução?
Mas se guardarmos os trocos debaixo do colchão, a economia teimará em não acelerar. Para os que puderem ser social será, neste contexto, manter o nível de consumo que tínhamos antes da covid, pelo menos para os que não tiveram redução de rendimentos.
Estão por apurar todos os indicadores macroeconómicos sobre potenciais impactos disto tudo que estamos a viver. Parece que os números – surpresa? – são desagradáveis!
Ora bem, cada um vai fazendo o seu trabalho, mas o meu – e o de muitos – é na microeconomia. Há alguns detalhes concretos – porque as empresas vivem de ação, de concretização e de execução, mas também de motivação, de emoção e de coração – que seria interessante incorporar para sabermos ao que vamos e qual o ponto de chegada:
1. Os estados em geral – os europeus em particular – decidiriam alocar meios, ou melhor, dinheiro, de curto prazo para combater o choque sanitário e económico. É bem!
2. As ajudas de hoje serão impostos amanhã, sejam caras ou baratas: ou seja, com juros altos ou baixos. Essas ajudas serão pagas mais tarde pelos acionistas do Estado. Nós: pessoas e empresas!
3. Os pontos 1 e 2 são factos. Na engenharia aprendemos que quando um problema não tem solução é um facto! A partir dessa constatação, trabalhamos com esse facto para orientarmos o nosso pensamento para chegarmos a possíveis soluções. É a realidade!
4. Para pagar estas ajudas – isto aplica-se a uma família, empresa ou estado – precisamos de i) aumentar o que ganhamos ou ii) reduzir o que gastamos. Aprendi isto com a minha mãe em casa, que tendo uma educação académica relativamente curta, foi a minha grande professora de Gestão! Estou grato à minha mãe por isso!
5. Mas se guardarmos os trocos debaixo do colchão, a economia teimará em não acelerar. Para os que puderem – nunca pensei um dia dizer isto, pelo descrito no ponto 4 – ser social será, neste contexto, manter o nível de consumo que tínhamos antes da covid, pelo menos para os que não tiveram redução de rendimentos. Muitos mantiveram as mensalidades dos colégios privados, ou pagam a empregadas domésticas mesmo sem estas virem trabalhar. Por estes dias, já será social tomar o café na pastelaria, almoçar no restaurante da esquina, e pedir o takeaway daquele restaurante do bairro que teve de se reinventar. Consumir, gastar – nos níveis pré-covid –, pelo menos nesta fase de arranque, para voltar a dar vida a tantos empregos e pequenas empresas. É social e é bem!
6. Como não vivemos sozinhos no mundo, a brutalidade do que se está a passar precisa de solidariedade. Neste momento é o valor essencial para que a vida tenha o mínimo de humanidade. Aprendemos a partilhar, e isso – de forma egoísta – faz-nos sentir muito bem! Sejamos, neste sentido, egoístas. Giving back, solidariedade, muito bem!
7. Mas precisamos de mais uma coisa: de criatividade para dar a volta à vida. Cada um – pessoa, família, empresa – à sua maneira. A criatividade, combinada com a empatia, e o sentido de risco certo são os ingredientes para a base do empreendedorismo. Criatividade, bem!
Conclusão: precisamos de solidariedade (6) e criatividade (7) para trabalhar mais e no limite ganhar menos. Mas temos de ir mantendo alguns gastos “sociais” (5), fazendo um bom exercício de gestão como aprendi com a minha minha mãe (4), porque de facto os Estados – e bem – com base nos factos (3) meteram dinheiro nisto tudo (1), e nós teremos de pagar (2).
Está claro que temos de encontrar a nossa nova realização e felicidade, num cenário com menos meios do que antes disto tudo?
Se conseguirmos parametrizar isto no nosso sistema mental, evitamos depressões e ansiedades, estando do lado da solução em vez do lado do problema!
De que lado queremos estar?