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A urgência de dizer não aos novos "donos disto tudo"

Os manipuladores que abundam por aí, tem a capacidade de chantagear descaradamente ao jeito de "vendedores da banha da cobra", acabando os seus "fregueses" por fazer o que eles querem, como se a vontade dos outros nem sequer existisse.

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Esse "jogo" ignora direitos inalienáveis como expressar sentimentos, opiniões e vontades, dizer "não" sem sentimento de culpa, receber aquilo pelo que pagou, expressar pontos de vista, mesmo que diferentes dos demais e / ou proteger-se de ameaças morais e emocionais.

 

É claro que os manipuladores são destruidores dos limites, porque não respeitam nem reconhecem os direitos dos outros. São uma espécie de "donos disto tudo".

 

J. Saramago diz: "Somos feitos de metade de indiferença e metade de ruindade". Embora, seja dura esta observação de Saramago, devemos considerar que, de facto, o pensamento dele é correcto. O "Ensaio sobre a cegueira" de 1995, descreve a manipulação a que todos somos sujeitos, representada através de inúmeras metáforas que nos fazem perceber o que nos circunda, o mundo, os outros, e, muitas vezes, até a nossa individualidade.

 

Essa "cegueira" faz-nos ser dominados pela ditadura subtil de egos inflamados, que não conjugam os verbos no plural, como escreve Erik Morais. Típico de muitos líderes, que verdadeiramente o não são, nem podem ser, porque as "boas lideranças" falam no plural. Quando a liderança promove a cultura do ego, não há, dessa forma, a percepção dos outros, de modo que o outro se torna invisível perante a cegueira egoísta.

 

Numa sociedade sustentada no egoísmo, passamos a tornar-nos estranhos. Passamos a "cegar" e, acima de tudo, passamos a tornar a vida um lugar ainda mais inóspito.

 

A vida sempre será dolorosa e a terra dura, mas não podemos viver escravizados pelos nossos egos, achando-nos sempre autossuficientes, sentados em cima do próprio umbigo. Como disse Tokinho Carvalho, um outro autor de língua portuguesa: "Em terra de egos, quem vê o outro é rei".

 

Viver é poder ter a riqueza de construir pontes que ligam pessoas. É reconhecer a fome no outro, mesmo quando a barriga está cheia. É ir além do egoísmo.

 

É nunca permitir que a cegueira se instale e retire o que há de mais belo no mundo, pois lembrando outra vez Saramago: "Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara", porque cabe a cada um de nós a responsabilidade de ter olhos quando os outros os perderam.

 

Os manipuladores tentam coagir, agindo de improviso, levando os outros a responder ou agir de imediato para conseguir o que desejam ("fechar logo o negócio").

 

Saber dizer "não" é a parte mais importante na arte da comunicação. Uma negação clara permite desmantelar os manipuladores.

 

É um direito. Saber "dizer não" sem sentir qualquer tipo de culpa, permite, com livre arbítrio, o direito de escolher o próprio caminho para a felicidade. "Dizer não" é um dos métodos mais eficientes de truncar o jogo do manipular, colocando-o num beco sem saída, obrigando-o a mudar de atitude ou até a revelar qual era o seu plano, inviabilizado-o.

 

Enquanto o manipulado for passivo e obediente, não expressando a sua opinião, será sempre um alvo fácil, mas logo que a vítima começa a demonstrar personalidade e a defender os seus direitos, o manipulador retira-se. Esta regra funciona em qualquer esfera da sociedade.

 

Consultor

(Artigo actualizado no dia 19 de Setembro)

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