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A universidade e a aposta nas regiões

Das "fake news" ao populismo, das mudanças climáticas às desigualdades, das cidades e comunidades sustentáveis à neutralidade carbónica, são várias as missões que comportam a agenda do conhecimento no séc. XXI.

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É minha convicção que as universidades podem, e muito significativamente, contribuir para o desenvolvimento das regiões.

 

Comecemos pela sua missão: servir, através do conhecimento, o país a que pertencem e melhorar a vida das famílias, da economia e da sociedade. Ou seja, as universidades visam, em primeiro lugar, as pessoas. São o melhor elevador social que se conhece: a qualificação dos indivíduos habilita-os a encontrar empregos dignos, num mercado tão instável como global.

 

Depois, há que referir que as universidades são, sem dúvida, o melhor mecanismo de inclusão de que as sociedades hoje dispõem: o lugar onde as pessoas se encontram em toda a sua diversidade, no qual se desafiam com toda a lealdade, mas colaboram com toda a solidariedade; em que o conhecimento e a verdade, e não a autoridade ou o preconceito, têm sempre a última palavra.

 

As universidades promovem uma cultura do espírito que é única não só pelo modo como fortalece o questionamento, o respeito pelos diferentes pontos de vista e o pensamento crítico, mas também pelo modo como incentiva a assunção do risco e o exercício mental de compreensão e de superação do insucesso.

 

As universidades são também os espaços que melhor permitem a abordagem de questões complexas em ambiente colaborativo. E a complexidade é hoje o grande, o maior, desafio para o conhecimento, tanto no que se refere à inovação como - aspeto muitas vezes esquecido apesar de ser essencial - à conservação dos saberes e à memória das diferentes civilizações e culturas, nas suas múltiplas formas e modalidades. Um desafio difícil que requer abordagens interdisciplinares e multidisciplinares que a sociedade civil nem sempre está preparada para assumir.

 

Acresce que as universidades que defendem os objetivos do desenvolvimento sustentável, a "Agenda 2030" das Nações Unidas - como é o caso, sobretudo, das europeias -, se focam no conhecimento necessário para lidar com os principais desafios globais da sociedade de hoje. Das "fake news" ao populismo, das mudanças climáticas às desigualdades, das cidades e comunidades sustentáveis à neutralidade carbónica, são várias as missões que comportam a agenda do conhecimento no séc. XXI.

 

"Hubs" muito especiais de compreensão da complexidade, as universidades contêm uma combinação única de stocks de conhecimento e de vontade institucional para assumir riscos, permitindo, assim, às empresas com as quais colaboram terem um parceiro original que considera que errar na procura de novas soluções faz parte integrante da vida, em todos os seus aspetos.

 

Daí o impacto que as universidades têm nas comunidades em que estão inseridas e no país como um todo. Desde logo, funcionando como atratores de talento, contribuindo para travar o "brain drain" dos territórios onde estão implantadas. Por outro lado, promovendo a especialização inteligente das regiões, construindo ou fortalecendo as suas vantagens competitivas e estimulando o investimento e a exportação.

 

As universidades são ainda fortíssimos potenciadores da internacionalização dos países e fazem-no de duas maneiras. Primeiro, pela diplomacia académica: professores, investigadores, colaboradores, estudantes nacionais e estrangeiros e "alumni" levam o nome do país onde quer que estejam. Segundo, através dos curricula que ensinam, das agendas do conhecimento que desenvolvem e da comunidade internacional que acolhem, proporcionando experiências verdadeiramente internacionais, que são particularmente importantes para as famílias que menos podem e menos têm, a quem seria impossível ter as suas filhas e filhos a estudar no estrangeiro.

 

Por fim, destaco o facto de as universidades serem criadoras de emprego muito qualificado e impulsionadoras de uma necessária interação com todas as instituições que convivem no mesmo território, funcionando como motores reais de desenvolvimento das comunidades e das regiões em que se inserem. São o trunfo de um país que não deixa a modernidade e o futuro dos seus cidadãos reféns de fatores que lhe são externos. São uma condição crítica da independência nacional no séc. XXI.

 

Este tem sido e será, cada vez mais, um compromisso claro e constante da Universidade NOVA de Lisboa - apostar no equilíbrio territorial e na justiça que são devidos a todos os cidadãos do nosso país.

 

Reitor da Universidade NOVA de Lisboa

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