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Burning Man - Génios ou loucos?

No dia 3 de Setembro queimámos o homem pela trigésima segunda vez (no meu caso pela terceira vez).

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O Burning Man é um festival no estado de Nevada (EUA), no qual participam cerca de 70 mil pessoas que constroem uma cidade (Black Rock City) no meio do deserto, durante uma semana. Mais do que um festival de música ou de arte, é um festival de criatividade bastante difícil de descrever. No centro da área, com 2,4 km de diâmetro, encontra-se uma estátua do Homem, em madeira.

 

Pessoas nuas, vestidas com as roupas mais extravagantes, que vão em bicicletas ou de carros "mutantes", e que não tomam banho durante uma semana. Filas gigantes para chegar, um calor escaldante durante o dia e frio durante a noite, sem falar de um pó que entra em todos os lados e não nos abandona por meses e tempestades de areia que não nos deixam ver ou respirar. Com esta descrição, que é correta, a maioria das pessoas pergunta-nos o que é que lá vamos fazer e é normal tentar ridicularizar a experiência. As fotos fora de contexto ajudam também.

 

No entanto, participar no Burning Man é uma experiência única. Uma sociedade utópica criada nas condições mais inóspitas. As pessoas acampam em tendas ou autocaravanas. É proibida qualquer transação ("gifting economy"). A arte existe por todas as partes, em todas as formas e feitios e é participativa. Muitas peças poderiam (e com frequência terminam) nos melhores museus. As pessoas levam presentes para dar entre si, que podem ir desde algo comprado a uma massagem. Vários dos melhores DJ e músicos estão presentes e atuam em palcos criados pelos participantes no deserto. Ao contrário do tradicional festival onde a organização cria os espaços, no Burning Man os participantes criam quase tudo.

 

Perto de São Francisco, este festival atrai muitos dos empreendedores de Silicon Valley e é descrito por muitos como uma forte influência na cultura local. Parte do processo de contratação de Eric Schmidt para CEO da Google foi ir com os fundadores ao Burning Man. E nas suas palavras: "É bem documentado que eu vou ao Burning Man. O futuro é criado por pessoas que têm uma visão alternativa do mundo. E nunca se sabe onde se vão encontrar as ideias." É o caso de Elon Musk, que teve a ideia de criar a empresa Solar City com o seu primo durante o evento.

 

No final da semana os participantes juntam-se à volta da estátua que é queimada. Para alguns, uma representação de queimarmos o que queremos deixar para trás e reinventarmo-nos para o novo ano. O significado fica ao critério de cada um, não existe um específico. A saída não é fácil, parece que chegámos de outro planeta, onde gostávamos de estar, para regressarmos ao mundo normal. Nos primeiros dias falamos com os nossos amigos que já lá estiveram enquanto nos reintegramos. Passamos a ser as piores pessoas para convidar para jantar nos meses seguintes porque quando nos juntamos costuma ser o tópico da conversa.

 

Apesar de toda a crítica, o Burning Man é para mim uma exibição, mesmo que por uns dias, do melhor e mais criativo que há no ser humano, e a influência que tem na nossa cultura tem sido importante. Esses dias ajudam muitas pessoas a quererem ser a melhor versão deles próprios, e isso reflete-se nas suas vidas e empresas quando regressam ao mundo real. Quem não vai não entende, quem vai chama-lhe casa.

 

Partner litsebusiness.com e professor de e-commerce e marketing digital na Nova SBE

 

Este artigo está em conformidade com o novo Acordo Ortográfico
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