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De San José a Berlim (com escala em Lisboa)

Com a seleção nacional a ficar pelo caminho na fase de grupos do Mundial do Brasil dei por mim a torcer pela seleção da Costa Rica.

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Tinha visto alguns jogos e achei fascinante descobrir uma equipa que parecendo ter consciência das suas limitações, trabalhava afincadamente e demonstrava em campo que o trabalho, a concentração e o desejo de ultrapassar os objetivos definidos eram fundamentais para o seu sucesso. Além desse aspeto, o facto de saber que os jogadores da Costa Rica eram os que no mundial apresentavam os melhores índices de qualificações académicas tornou-os, aos meus olhos, o exemplo do modelo a seguir em termos de formação de jovens e do seu encaminhamento e preparação para vidas profissionais que preencham o pós-atividade desportiva profissional. A realidade é que uma grande quantidade dos atletas da Costa Rica mantém-se na escola e há um grande número deles que concluiu estudos universitários.

 

A Costa Rica já estava no meu radar há uns anos devido ao exemplo que na área da sustentabilidade têm vindo a fazer, para proteger uma biodiversidade e um património natural de muito valor. É um dos países do mundo com melhor performance ambiental sendo que no Environmental Performance Index de 2012 ficaram em 5.º lugar (embora os resultados tenham vindo a decair, estando a sociedade civil em alerta para as falhas existentes, o que só comprova que a educação é fundamental para uma consciência crítica da realidade). A realidade futebolística veio trazer alguma relevância mediática a todo um esforço de uma nação.

 

Depois surge a Alemanha! Sem comentários sobre o que fez e como o fez. Escrevo o presente artigo antes de saber o resultado da final do Mundial mas a realidade não se consegue esbater. A Federação de Futebol Alemã, segundo a edição de 8 de julho do Diário de Notícias, "é a maior federação desportiva em todo o mundo, com um impressionante número de 6,8 milhões de futebolistas e 26 mil clubes filiados". A ligação que os clubes (não só de futebol mas de outras modalidades) fazem com as escolas, a nível do que podemos chamar de um desporto escolar integral, tem permitido uma melhoria da sustentabilidade dos clubes e associações desportivas e a própria construção dos horários dos estudantes privilegia uma interligação entre a atividade físico-desportiva e os estudos.

 

É minha opinião que o caminho de Portugal deveria passar por esta conexão obrigatória entre escolas e associações desportivas. Cada aluno deveria selecionar uma, duas ou mais modalidades desportivas e existir uma interligação entre os seus professores e os seus formadores desportivos, privilegiando-se as componentes de cidadania e de desenvolvimento de uma mente sã em corpo são que, por vezes, são transmitidas (mal!) em sala de aula ou em modelos desgarrados das necessidades psicomotoras e das próprias realidades sociais das crianças e jovens. Este modelo poderia ser inclusive a forma de financiamento das federações, associações e clubes, originando uma melhor regulação e auditoria do seu funcionamento, procurando-se rentabilizar ao máximo as infraestruturas existentes e definindo-se objetivos claros de participação em competições desportivas salvaguardando sempre a contínua aposta na melhoria das qualificações académicas e profissionais. O caminho tem sido o oposto, infelizmente, com uma desvalorização das disciplinas de educação física. As razões que subjazem estas decisões são as que me levam a dizer que esta componente deverá ser retirada da esfera da escola dita clássica e interligada com as associações desportivas.

 

O susto que é ver o aumento dos níveis de obesidade e de inércia física nas crianças e jovens deveria servir de alerta. É urgente mexermo-nos todos em prol de uma melhoria geral da atividade física. Por tudo o que vem atrás.

 

Por fim, e tendo estado presente no passado dia 10 de julho no lançamento do Código de Ética Desportiva, no âmbito do Plano Nacional de Ética no Desporto, onde, mais uma vez, o Professor Roberto Carneiro fez uma magnífica preleção, fica a necessidade de concretizarmos o desígnio de que a formação para o desporto deve ser central para o desenvolvimento sustentado dos cidadãos de hoje e amanhã.

 

Administrador ISG

 

Artigo escrito de acordo com o mais recente acordo ortográfico

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