Opinião
A comédia de enganos
Na novela da Caixa, o Governo já meteu tantas vezes os pés pelas mãos que é difícil compor o enredo para isto acabar bem.
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Desde o tempo de demora na aceitação da equipa de Domingues às alegadas condições oferecidas à administração, passando pela história da entrega, não entrega, das declarações de rendimentos ao constitucional, são tantas as cenas gagas que até se corre o risco de perder o fio à meada. Mas o último episódio conhecido, o de António Domingues ter sido apresentado em Bruxelas e Frankfurt como candidato à Caixa, mas ainda vice-presidente do BPI, levanta várias questões sobre a condução do processo.
Tratando-se de uma instituição demasiado importante e que necessita de mais de 5 mil milhões de euros, estes episódios demonstram uma insustentável leveza do Governo, particularmente do ministro das Finanças e do secretário de Estado Mourinho Félix.
Numa linguagem popular, pode dizer-se que os governantes foram "anjinhos" a lidar com este assunto. Em sua defesa podem apontar as dificuldades de encontrar uma equipa que liderasse o complicado processo de recapitalização da Caixa, que teve de ter aprovação das instituições europeias. Mas Centeno e Mourinho trataram Domingues como o último refrigerante do deserto, um tratamento que já nem o primo treinador do secretário de Estado, o outrora "Special One", merece no mundo do futebol.
Os governantes têm muitas respostas políticas para explicar esta triste novela. Os assuntos de Estado exigem formalismo, seriedade, cumprimento de regras e da lei.
A Caixa enfrenta um período decisivo, além da injecção milionária de dinheiro fresco, tem de passar uma complicada fase de reestruturação que levará à dispensa de milhares de pessoas. É um assunto demasiado sério para continuarmos com esta triste comédia de enganos.
Director-adjunto do Correio da Manhã