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Minhotos lideram re(l)volução nos estádios do Brasil

O campeonato brasileiro vai ser jogado pela primeira vez num relvado sintético instalado pela Global Stadium, que está a aproveitar as Olimpíadas para construir também pistas de atletismo.

05 de Janeiro de 2016 às 09:48
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Uma linha de financiamento comunitário para construir relvados sintéticos, que abrangia 80 municípios, foi a "oportunidade de mercado" identificada por Luís Botas para criar a Global Stadium em 2008. Era funcionário de uma empresa que fornecia este produto ao grupo ACA e, a partir dessa relação, constituiu uma sociedade com essa construtora de Famalicão, que hoje detém a empresa na totalidade.

Perto de 90% do negócio assenta nos relvados sintéticos, sobretudo para futebol e, em menor escala, para ténis e paddle, executando também pistas de ciclismo - o velódromo de Sangalhos é o cartão de visita - e de atletismo. Duas delas, em Londrina (Paraná) e São Caetano do Sul (São Paulo), estão em obra no Brasil, sendo este um segmento que "poderá crescer e ganhar relevo" em ano de Jogos Olímpicos naquele país.

Representante da Italgreen, a Global Stadium recebe o material virgem de Itália e instala o relvado. "Não é só estendê-lo. Há todo um cenário de obra associado, tão importante como o próprio fabrico", sustenta o responsável, frisando que já levou equipas a vários países para dar formação na área e recebeu outras provenientes de mercados árabes. E se no início era a fabricante italiana que angariava os negócios e os subcontratava para executar a obra, a relação directa com os clientes finais permite-lhe agora captar contratos em vários destinos.

Do "pecúlio" de 200 mil metros quadrados em 2015, só 20% foram montados em Portugal. A internacionalização arrancou em 2009 em Cabo Verde e na lista estão França, Angola, Brasil, Estados Unidos - instalou um relvado no Ground Zero, em Nova Iorque, já retirado - e Rússia, onde fez campos de treino no complexo olímpico de Moscovo. Nos dois países de língua portuguesa tem estrutura própria, nos outros está "a reboque" da empresa-mãe.

Notas rápidas
Participada do grupo ACA
Integrada num grupo de construção...
A Global Stadium é uma participada do grupo ACA, que é um dos mais relevantes no sector da construção em Portugal. Fundado por Alberto Couto Alves, tem um volume de negócios consolidado de cerca de 200 milhões de euros.

... que faz negócios do ambiente ao alimentar
O grupo tem presença directa em Angola, França, Brasil, Argélia, Polónia. Além da engenharia e construção, actua na reabilitação urbana e saneamento, imobiliário, ambiente, energia, tratamento de resíduos e distribuição alimentar.
Os esforços estão concentrados no Brasil, onde há um ano comprou uma fábrica e tem a Italgreen e empresários locais como sócios. É com essa unidade na Bahia que pretende exportar este ano para quatro novos destinos e é nela que assenta a estimativa de crescer 150% no "país irmão", onde opera como GV Group.

Depois de ganhar um concurso público, num consórcio com a ACA Brasil, para pavimentar um complexo multidesportivo em Itapetininga que nos próximos meses receberá a tocha olímpica, a "joint venture" da empresa minhota está a substituir o piso natural do Arena Baixada, em Curitiba, por um sistema de relva sintética com certificação "FIFA Pro". O estádio do Atlético Paranaense estará pronto a 15 de Fevereiro para o arranque do Brasileirão, o principal escalão de futebol.

A intervenção num dos 12 palcos do Mundial de 2014 envolveu duras e prolongadas negociações com a própria Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Luís Botas argumenta que este é um projecto emblemático porque "quebra um paradigma" no tipo de relvados do outro lado do Atlântico e gera "a expectativa de que outros clubes o queiram fazer em estádios e centros de treinos".

Perguntas a Luís Botas
Responsável da Global Stadium 
"É um orgulho vencer num mercado complicadíssimo"

O gestor reconhece que o Brasil é uma dor de cabeça logística e uma "aprendizagem contínua" e explica como gere a mão-de-obra.

Qual o vosso maior princípio na internacionalização?
A nossa filosofia é, onde entramos, respeitar toda a gente, quem nos chama, seja de onde for.

Como cumprem esse compromisso nas várias geografias?
Este ano a aposta foi manter o volume em Portugal e crescer no Brasil, ignorando outros mercados que nos solicitaram. Ainda há pouco nos ligaram da Nigéria, podia ser mais um país, e tivemos de rejeitar. Rejeitar contratos é uma situação muito difícil, mas tivemos de fazê-lo. Não podemos ir a todo o lado, sob risco de fazermos uma instalação mal feita, que nos afectava negativamente.

Como tem sido a vossa experiência no Brasil, onde muitas empresas portuguesas falham?
O Brasil é um mercado complicadíssimo. Não por culpa dos brasileiros, mas sobretudo da dimensão do país. De um momento para o outro temos de saltar de estado em estado e é uma dor de cabeça em termos logísticos, de mão-de-obra, de equipamento. E depois há a questão tributária, das leis do trabalho… É uma aprendizagem contínua. Para nós é um orgulho estarmos a vencer ali.

Como fazem a gestão dos recursos humanos?
Tentamos evitar aumentos de estrutura. Em Portugal o problema é a sazonalidade. Somos 10 pessoas, sendo cinco ou seis especialistas na instalação de relvados, e sempre que aumenta o volume de trabalho recorremos a funcionários de outras empresas do grupo e vamo-lhes dando formação. E aproveitamos os serviços partilhados do grupo, o que nos permite não ter vários custos, da contabilidade aos serviços jurídicos. No Brasil, o problema é a dispersão de trabalhos. Há 40 pessoas que são realmente da empresa e temos sempre mão-de-obra externa, com parceiros locais que funcionam quase como representantes estaduais. 
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