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Exportar e internacionalizar continua a ser o caminho

As empresas portuguesas terão de manter como estratégia a conquista de mercados externos. Essa é a perspectiva de Eduardo Stock da Cunha e Paulo Fernandes.

03 de Dezembro de 2015 às 12:32
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O lançamento da quinta edição dos Prémios Exportação e Internacionalização foi o pretexto para um conversa por escrito com os presidentes do Novo Banco  e da Cofina Media (accionista do Negócios).  Eduardo Stock da Cunha e Paulo Fernandes , em respostas dadas por escrito, falam sobre os desafios da economia, da banca e da fileira florestal.  Capitalizar  e reestruturar são o grande desafio do Novo Banco, diz Eduardo Stock  da Cunha. No sector do papel, onde Paulo Fernandes está presente através da Altri, o desafio continua a ser a gestão da floresta. 

 

Estamos a entrar num novo ano, Portugal tem pela primeira vez em democracia um Governo com suporte parlamentar à esquerda e a UE vive momentos de insegurança. Qual a tendência que antecipa para 2016, o que pode correr bem e o que pode correr mal?

Eduardo Stock da Cunha (ESC) – A Europa saberá resolver este momento de maior incerteza e reforçar o seu papel de liderança na inovação empresarial, na criação de emprego qualificado e modelo social. Portugal  irá beneficiar dessa recuperação e o novo Governo já assumiu como prioridade – ainda recentemente pela voz do ministro da Economia – o apoio ao investimento, e ao papel das empresas em criar mais e melhor emprego.

Paulo Fernandes (PF) – A nível internacional não são expectáveis grandes alterações. Os estímulos na Europa deverão continuar a suportar em baixa as taxas de juro que se verificam na Zona Euro. Também não se antecipa que a crise no Médio Oriente possa ser facilmente ultrapassada, embora esta tenha a capacidade de influenciar a cotação de algumas matérias-primas.

Independentemente do Governo, em Portugal estimo que se continue a assistir a uma ténue recuperação, que pode ser maior ou menor dependendo das políticas que o novo Governo vier a seguir. Face aos compromissos assumidos pelo país e ainda sem conhecermos o orçamento e as metas orçamentais, podemos prever que a um aumento da despesa do Estado não deixará de corresponder um aumento da carga fiscal.  Tendo em conta que são as empresas que criam riqueza e emprego e que parece ser vontade do novo Governo estimular o investimento, sobretudo privado pois o Estado não estará em condições de o fazer, esperamos que, na prática, se desenvolvam políticas amigas desse desígnio.

 

Qual é o maior desafio para o Novo Banco?

(ESC) – O nosso maior desafio é capitalizar e reestruturar o banco de forma adequada, prosseguindo a nossa missão de apoio à economia nacional. O Novo Banco é reconhecido pelo tecido empresarial português, e inclusive pelos nossos concorrentes e analistas nacionais e internacionais, como um banco de referência no financiamento das empresas portuguesas, e particularmente às PME, no apoio à sua inovação e ao crescimento das exportações e internacionalização.

 

Acabou a austeridade?
"Ainda é muito cedo para esse tipo de avaliação."

Eduardo Stock da Cunha
, Presidente do Novo Banco


"Não é muito credível que aumente o poder de compra."

Paulo Fernandes
, Presidente da Cofina Media


 

As PME podem ter a expectativa de obter mais crédito?

(ESC) – Hoje é reconhecido que não há um problema de capacidade do sistema financeiro de aportar crédito à economia. O grande desafio que temos pela frente não é o de conceder mais crédito, mas melhor crédito. Isto significa que o que o país precisa é de empresas com capacidade de inovação, de modernização e de adaptação aos novos desafios e oportunidades e que, simultaneamente, tenham uma estrutura de financiamento sustentável.  Para apoio ao investimento, destaco uma nossa nova linha FEI Inovação II de 200 milhões de euros que, em pouco mais de dois meses, tem já 40% de operações enquadradas e que por isso poderá ter de ser reforçada no início de 2016. Já esta semana iniciámos o desembolso de uma nova linha do BEI no valor de 300 milhões de euros que nos vai permitir financiar em condições muito competitivas projectos de investimento, com destaque aos oriundos para o Portugal 2020. No que concerne ao dia-a-dia das empresas, destaco, como dois grandes eixos de actuação, o reforço dos seus capitais permanentes e as suas relações comerciais. Quanto aos capitais permanentes, destaco a parceria de sucesso com o sistema nacional de garantia mútua, com ênfase para o PME Crescimento 2015, onde temos já submetidos 367 milhões de euros de financiamento a PME, dos quais 260 milhões de euros já estão aprovados e enquadrados. No dia-a-dia das relações comerciais entre empresas, não posso deixar de destacar a solução inovadora do Novo Banco, o NB Express Bill, que, recordo, é a única solução de pagamentos B2B integrada, a funcionar no espaço ibérico. Temos mais de 6 mil milhões de euros de pagamentos garantidos e antecipados.

 

E qual o desafio para o sistema financeiro português?

(ESC) – O Negócios referiu recentemente num artigo de opinião que é preciso ter uma estratégia para a banca que a prepare para uma nova era de rentabilidade mais baixa, maiores exigências de capital e para os efeitos do choque tecnológico. Agora acrescento eu que, como tudo na vida, isto envolve riscos e oportunidades cabendo ao sistema financeiro ganhar este novo desafio, como de resto já foi capaz de o fazer na década de 1990 quando a banca portuguesa se modernizou imenso. Uma vez mais a liderança em "change management" permitirá ganhos sustentáveis de competitividade. Capacidade tecnológica de processamento em "real time", desmaterialização de processos e "business intelligence", combinados de forma correcta com a qualidade das equipas existentes na banca portuguesa, permitirão dar um novo salto qualitativo na forma de fazer banca, maximizando os níveis de produtividade.  Um grande desafio.



"Sem uma política amiga da floresta não é possível importar menos."
Paulo Fernandes


 

O ano de 2016 deverá ser marcado pelo aumento do poder de compra. Acabou a austeridade? 

(ESC) – Ainda é muito cedo para se fazer esse tipo de avaliação, embora algumas decisões já anunciadas sigam nesse sentido. Agora, importante é mesmo desenhar e pôr em prática uma política orçamental equilibrada, dentro dos limites dos nossos compromissos europeus, que dê confiança aos nossos credores e aos mercados financeiros, reforçando assim o relançamento e o aumento da competitividade da economia e das nossas empresas e, consequentemente, aumentando o emprego e o poder de compra das famílias portuguesas.

(PF) –  Não é muito credível que aumente o poder de compra. O que pode haver é o alívio de austeridade para uns segmentos da população e mais encargos para outros. O país tem muito pouca margem enquanto os níveis de endividamento, quer público quer privado, continuarem como estão. A única forma de reduzir a dívida pública passa pela geração de superavites primários e não nos parece que se caminhe nesse sentido.

 

A fileira florestal, nomeadamente o sector da pasta e papel, deu um contributo positivo para as exportações durante os últimos anos. As perspectivas continuam a ser animadoras?

(PF) –  O maior desafio para o crescimento da fileira florestal passa exactamente pela gestão cuidada e orientada dos activos florestais. Em Portugal, teoriza-se muito e faz-se muito pouco. Todos estão preocupados com a área de floresta de eucaliptos que, ao contrário do que se quer fazer crer, não tem aumentado. Nem é essa a vontade de quem gere floresta. Mas poucos são aqueles que olham para a maior parte do país que é improdutivo a nível florestal e que está coberto de matos e áreas abandonadas e só se destina a ser pasto para incêndios. O Estado e os diversos intervenientes têm de, uma vez por todas, deixar de lado a demagogia e implementar estratégias que evitem o que se continua a passar. Se não houver incentivos económicos, e não estou a falar de dinheiro ou subsídios, os investidores privados não o irão fazer.  A indústria, embora sendo uma das mais eficientes da Europa, mesmo quando incluímos os países nórdicos, é deficitária em termos de abastecimento de matéria-prima, pelo que tem de frequentemente recorrer à sua importação.



"Temos de continuar a alargar a base exportadora nacional."
Eduardo Stock da Cunha 


 

A importação de matéria-prima para o sector do papel tem condições para diminuir? (Travar a expansão da área do eucalipto é um objectivo que está no acordo entre o PS e os Verdes.)

(PF) –   Volto a referir que o aumento da área de eucalipto em Portugal é um mito. Confunde-se plantação com aumento de área. Naturalmente com o ciclo de crescimento mais curto do que outras espécies, é natural que se plante mais vezes eucalipto, o que não significa que a área plantada aumente. O que se nota é que os investidores privados naturalmente estão mais disponíveis para investir no plantio de espécies que concedem retorno ao investimento em outras. Cabe ao Estado definir, pelos instrumentos que possui, os incentivos para o investimento em outras espécies para lá do pinheiro e do eucalipto. A Altri tem feito o que está ao seu alcance para manter e estimular a biodiversidade, detendo e mantendo milhares de hectares de florestas que não de eucalipto.

Aquilo que deve ser feito é promover a substituição de áreas de eucalipto de baixo rendimento por plantações com material genético melhorado e melhores práticas silvícolas.  Naturalmente que se não houver uma política amiga da floresta, que mais uma vez não significa aumentar áreas ou estimular a monocultura, não será possível reduzir a importação de matéria-prima de outros mercados, com claro prejuízo para a economia local e nacional.

 

A exportação e internacionalização foi a linha orientadora para as empresas durante os últimos quatro anos. Deverão as empresas manter essa orientação?

(ESC) – Sem dúvida que sim. Esse continua a ser o caminho. Ainda esta semana, na atribuição dos prémios de inovação do Novo Banco, pude confirmar que existe uma nova geração de empreendedores de elevadíssimo valor acrescentado, oriundos dos pólos de investigação das universidades portuguesas, que são já referências no mercado internacional, como a já consolidada Feedzai e a promissora HeartGenetics ou a incubadora 3B’s Group, de onde nasceu o projecto vencedor deste ano.

Mas, se é verdade que Portugal já evoluiu bem nos últimos anos, quer em termos do aumento do número de empresas exportadoras quer na incorporação de valor nos produtos exportados, também é indiscutível que, face à reduzida dimensão do nosso mercado interno, esse esforço tem de continuar.  Temos de continuar a alargar a base exportadora nacional, porque 1/5 do nosso valor exportado ainda está concentrado nas dez maiores empresas exportadoras. E  temos de ajudar as empresas a diversificar os mercados de exportação, porque 69% das nossas empresas exportadoras ainda só exportam para um mercado.

(PF) – O consumo doméstico em Portugal continua deprimido, pelo que para que possam ser sustentáveis, não resta outra opção para as empresas nacionais que não seja explorarem os mercados internacionais. Portugal ganhou quota de mercado na economia internacional e tem condições para aumentar essa quota de mercado. 

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