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Ciclones do Porto "atingem" EUA e Brasil

A Advanced Cyclone Systems arrancou o processo de internacionalização quase em simultâneo nos dois destinos do outro lado do Atlântico, arrastando a indústria nacional de metalomecânica.

19 de Janeiro de 2016 às 09:58
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A Advanced Cyclone Systems (ACS) está a instalar-se nos Estados Unidos da América (EUA) e no Brasil, percorrendo assim a ponte da exportação - já vendeu a sua tecnologia para filtrar as partículas do ar a indústrias de 35 países - para a internacionalização.

Fundada em 2008, a facturação da empresa portuense ultrapassou os quatro milhões de euros no ano passado, 75% deles no estrangeiro, sendo a Malásia, a América Central e o Brasil os melhores destinos.

As alterações na legislação que regula o nível de emissões de partículas pelas indústrias (o problema que o seu sistema de ciclones resolve) e a estimativa de aceleração nas vendas justificam a presença territorial na maior economia do mundo. "Um mercado demasiado competitivo para estar à distância" e onde "é preciso estar presente para vender, ponto final", detalha o presidente executivo, Pedro Araújo.

Já no mercado brasileiro, onde estava presente através de uma empresa representante, só tomou a decisão depois de identificar "uma aplicação com grande potencial de ser escalada": o controlo de poluição em caldeiras industriais a biomassa. Além disso, sustenta, "a presença no Brasil é necessária devido ao enfraquecimento do real e dos impostos sobre a importação".
Nos EUA, é preciso estar presente para vender, ponto final. É um mercado demasiado competitivo para estar à distância. pedro Araújo Presidente executivo da Advanced Cyclone Systems
Estes são os primeiros países em que está a criar empresas locais, embora a presença física de muitos dos actuais 17 trabalhadores já fosse necessária para supervisionar ou instalar os sistemas. "Estamos numa indústria que, fatalmente, envolve produtos pesados, feitos de aço e que podem ocupar volumes do tamanho de casas", explica o gestor da ACS.

Na volta ao mundo

O fabrico dos equipamentos é subcontratado a empresas nacionais de metalomecânica. Um modelo de negócio que reduz o investimento nestes dois países a pequenos escritórios, recursos humanos e marketing, num esforço financeiro calculado entre 200 a 300 mil euros durante o primeiro ano.

Além da indústria pesada, há outros clientes nos sectores químico, farmacêutico ou alimentar em que a partícula que se quer filtrar, em vez de ser um poluente, é um produto. Por exemplo, na produção de leite em pó ou de um fármaco em pó, muitas vezes perde-se produto e estes equipamentos aumentam a sua captura e tornam os processos produtivos mais eficientes.

Apresentada como a única empresa mundial exclusivamente dedicada a sistemas de ciclones, a ACS quase nasceu exportadora. Logo um ano após ser criada, vendeu a sua tecnologia para uma caldeira na Dinamarca, para um processo de calcinação no Suriname e para um ciclone farmacêutico nos Estados Unidos.

A lista de destinos invulgares para portugueses não foi coincidência de principiante. A título de exemplo, a empresa que em Portugal tem projectos com a Sonae Indústria ou a EDP, lá fora tem como clientes indústrias de lavagem de roupa na ilha de Bali (Indonésia), de ingredientes para a indústria alimentar na República Dominicana e de produção de óleo de palma na Malásia.
Perguntas a Pedro Araújo Precisamos de proporção maior de médias empresas A escala que falta às empresas nacionais "só acontece com profissionalismo e a ambição" de subir degraus ano após ano.

Antes de criarem estruturas no estrangeiro, as empresas nacionais têm de sacrificar margens, recorrendo a agentes e representantes locais, aconselha Pedro Araújo.

Que desafios enfrentam no processo de internacionalização?
Colocam-se logo na identificação dos locais onde queremos estar presentes, tanto no que respeita ao potencial de mercado, como na compreensão da cultura nesses países. As melhores armas para combater o problema são trabalhar com pessoas que conheçam a cultura e dar incentivos aos clientes para as coisas correrem bem. Há que conhecer bem os países, começando a exportar com o recurso a agentes e representantes locais, mesmo que com margens menores, antes de dar o passo de criar empresas nessas geografias.

Qual o potencial de Portugal como exportador de tecnologias na área da engenharia?
Muito grande, pois temos muito boas escolas e excelentes profissionais. Falta a capacidade de nos organizarmos melhor e de nos associarmos em "clusters". Vivemos ainda muito para dentro das empresas, na pequenez. Falta-nos a escala e a escala só acontece com muito profissionalismo e ambição de, ano após ano, subirmos mais um degrau em busca da excelência de produtos e das organizações. Temos uma "cauda" demasiado longa de micro empresas, que nos prejudica a competitividade. É essencial que cresçam. Precisamos de uma proporção maior de empresas de média dimensão.

Já tiveram algum problema adicional por serem de um país que não tem imagem forte nas tecnologias e na engenharia?
Temos diariamente. Muitas vezes, a única forma de resolver o assunto é comprar um bilhete de avião e mostrar pessoalmente o que fazemos e como fazemos. 

Notas rápidas  Universidade foi "berço" da tecnologia  ORIGEM NA FEUP...
Tudo começou na FEUP - Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, onde o professor Romualdo Salcedo começou a estudar a tecnologia de ciclones há mais de 15 anos. Foi no campus, como aluno de Gestão e Engenharia Industrial, que Pedro Araújo a conheceu.

...empurrão da COTEC
Foi através do programa CoHitec, quando Pedro Araújo estava a fazer um MBA na Nova de Lisboa, que surgiu a ACS em Maio de 2008. Um ano depois a Espírito Santo Ventures entra na estrutura accionista. Mantém 49%, estando a maioria na mão dos dois sócios fundadores.
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