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Manuel Heitor: “As pandemias não terminam de um dia para o outro”

A questão crítica são os testes virais, de diagnóstico, mas hoje temos em curso outras triagens com testes baseados em sangue, os testes serológicos, não curam mas são essenciais para se começarem a fazer estudos de imunologia.

06 de Maio de 2020 às 17:30
Manuel Heitor diz que Portugal pode ter um papel importante no fornecimento de equipamentos de proteção.
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"É neste tempo de incerteza que o conhecimento e a capacidade científica e tecnológica são cada vez mais determinantes como vimos nas últimas semanas tanto em Portugal como no mundo", afirmou o ministro da Ciência e Tecnologia, Manuel Heitor, no segundo Think Tank Digital PME no Radar, a iniciativa do Negócios, em parceria com o Santander, que está a promover a discussão em setores-chave da economia.

A capacidade científica e técnica portuguesa para reagir a esta pandemia e para abrir novas oportunidades verificaram-se na "capacidade de realização de testes, tendo sido possível aumentar a capacidade nacional de testes sobretudo usando a capacidade instalada em laboratórios científicos e técnicos, uns que já estavam adaptados à medicina molecular, outros que se adaptaram como o Laboratório de Biotecnologia do Instituto Politécnico de Viana do Castelo ou em Leiria ou em Bragança, o laboratório da Montanha, à necessidade de aumentar o número de testes que se faz em Portugal".

Salientou ainda que a mobilização de recursos qualificados permitiu o desenvolvimento de meios para se fazerem estes testes. Deu como exemplo, o teste desenvolvido no IMM (Instituto de Medicina Molecular), que tem por base um protocolo aberto a nível internacional mas que foi adaptado para funcionar com reagentes nacionais de uma empresa de biotecnologia portuguesa.

Outro meio essencial para estes testes são as zaragatoas, de que Portugal era importador, contudo a capacidade científica e técnica de um consórcio entre o Centro Académico Clínico do Algarve, Centro Académico Clínico Algarve Biomedical Center, a start-up do Algarve, a Mark 6 Prototyping, o Instituto Superior Técnico, de Lisboa, e a Hidrofer, empresa de Famalicão que fazia cotonetes e passou a ser fabricante de zaragatoas e a abastecer do mercado nacional e a exportar.

Portugal no top dos testes

"Hoje Portugal está no top de mais testes realizados por milhão de habitantes, com muitos testes adquiridos no estrangeiro, mas também com muita produção própria", sublinhou Manuel Heitor. Há três semanas produziam-se 100 testes por dia, nos 16 laboratórios certificados, hoje existe uma capacidade de mais de 4 mil testes, para além da capacidade dos laboratórios privados e do Sistema Nacional de Saúde, garante Manuel Heitor.

As pandemias, como esta da covid-19, não terminam de um dia para o outro, e mesmo depois do estado de emergência, também o tipo de testes deve evoluir ao longo do tempo. A questão crítica são os testes virais, de diagnóstico, mas hoje temos em curso outras triagens com testes baseados em sangue, os testes serológicos, não curam mas são essenciais para se começarem a fazer estudos de imunologia. A Universidade do Porto, por exemplo, vai lançar um desses rastreios na comunidade universitária e que vai ser feita ao longo de três anos para estudar sistematicamente as questões imunológicas.

Tem de se aumentar a capacidade de produção de vários tipos de testes e que se tem de prolongar ao longo do tempo. Por isso mesmo, em todos os laboratórios científicos que foram adaptados para fazer testes, utilizou-se apenas parte, para poderem ser feitas outras atividades. É crítico desenvolver esta capacidade de fazer testes não só de uma forma pontual mas pelo menos durante um ano a um ano meio.

Um projeto relevante da reorientação da nossa capacidade científica e técnica foi a mobilização perante a necessidade de produzir ventiladores, que são um fator crítico das unidades de cuidados intensivos neste tipo de pandemia. Entre alguns projetos que foram desenvolvendo, como o projeto Atena do CEIIA, em que 100 engenheiros, sobretudo habituados a trabalhar na área aeroespacial e aeronáutica, trabalharam num ventilador que já está hoje em testes clínicos.

A crise mostrou a dependência da Europa a elementos básicos oriundos da China.  manuel heitor
Ministro da Ciência e Tecnologia


Referiu ainda que o programa lançado pela Fundação para Ciência e Tecnologia para estimular a investigação nesta área tem em curso 66 novos projetos, assim como os apoios que Agência de Inovação libertou sobretudo para o projeto de ventilador.

Numa crise desta natureza há grandes desafios e obstáculos sobretudo associados à estagnação relativa da economia mas estes tempos também são de reflexão no contexto europeia, "porque a crise mostrou claramente a dependência da Europa a elementos básicos oriundos da China e por isso a reorientação das cadeias de produção industrial ao nível europeu, em que Portugal pode ter um papel importante no fornecimento de equipamentos de proteção individual até aos ventiladores e a outras tecnologias", salientou Manuel Heitor.

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