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Recuperação mais lenta do que em crises anteriores se as pessoas irão viajar mais ou menos.

Sérgio Guerreiro, diretor executivo do Westmont Institute of Tourism and Hospitality na Nova SBE, sublinha a importância de monitorizar o índice de confiança porque é este que vai ditar se as pessoas irão viajar mais ou menos.

Filipe S. Fernandes 09 de Junho de 2020 às 14:00
Sérgio Guerreiro diz que 43% das empresas turísticas estão sem cancelamentos em agosto.
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A indústria do turismo vai viver num next normal, que não é exatamente igual ao pré-pandemia, porque a retoma é um processo que depende de múltiplas variáveis e portanto o turismo enquanto indústria vai viver "novos normais à medida que um conjunto de limitações sejam ultrapassadas", afirma Sérgio Guerreiro, diretor executivo do Westmont Institute of Tourism and Hospitality na Nova SBE.

O turismo é uma atividade fundamental para a economia portuguesa. Em 2018 o consumo turístico valeu 14,6% do PIB, em 2019 representou 19,7% das exportações totais, 52,3% das exportações de serviços. "Tudo o que se conseguir fazer para recuperar rapidamente o setor turismo terá impacto evidente e imediato terá efeito no que será a performance da economia portuguesa", acentuou Sérgio Guerreiro. Acrescentou ainda a importância do turismo como indústria exportadora e o seu contributo para o equilíbrio das contas externas. Em 2019 foram 18,4 mil milhões de receitas no turismo. A este recorde juntam-se outros em 2019 como quase 27 milhões de hóspedes, 70 milhões de dormidas, 4,3 mil milhões de receitas da hotelaria, 65,6% de taxa média de ocupação.

Os dois primeiros meses de 2020 cresceram a dois dígitos o que fazia antever um ano muito positivo e sobretudo mostrava o esbatimento da sazonalidade que tem sido uma marca do turismo.

Em dois meses, uma crise, que parecia muito semelhante às de anos anteriores, confinada à Ásia e restrita a uma zona territorial definida, rapidamente migrou para o Ocidente, primeiro para a Europa e depois nos Estados Unidos e Américas. "Isto significa que a economia global se vai ressentir e primeiro nas economias mais avançadas que são as principais emissoras internacionais de turistas como a Europa, que representa 80% da procura do turismo em Portugal", referiu Sérgio Guerreiro.

Confiança e economia

"Um elemento fundamental tem a ver com a confiança do consumidor porque sem confiança não há economia", sublinhou Sérgio Guerreiro. Houve uma queda abrupta da atividade e da confiança e é o índice de confiança que tem de ser monitorizado porque é este que "vai ditar se as pessoas vão viajar mais ou menos e tem a ver com as sequelas na economia real, que a pandemia deixou, e que impactam sobre um outro elemento que é essencial para o turismo que é o rendimento disponível das famílias", acentuou.

Em fevereiro, a IATA circunscrevia a crise mundial sobretudo na Ásia-Pacífico e previa uma quebra de passageiros de 13% em termos globais. A UNWTO apontava quebras para o setor entre 1 e 3%. No início de maio, esta organização já partilha uma outra previsão em que aponta para uma quebra não inferior a 60%, no pressuposto que há abertura de fronteiras e viagens em julho de 2020. Se este cenário não acontecer até fim do ano, a quebra vai ser de 80%.

Abril no turismo

-97,1% de hóspedes

-96,7% de dormidas

-85% de receitas


Segundo Sérgio Guerreiro, há uma correlação direta entre os casos de covid-19 e as reservas aéreas. A partir de dados da Forward Keys conclui-se que, desde que a crise chegou à Europa e que acelerou, houve uma queda igual em todas as regiões europeias do volume de reservas. O que também aconteceu em Portugal em que as reservas caíram à medida da eclosão dos casos. A 21 de fevereiro de 2020 com os primeiros casos confirmados em Espanha tiveram impacto em Espanha e uma semana depois em Portugal foi similar com as reservas para o mês seguinte a caírem a pique.

O setor do turismo foi a atividade mais afetada com 98% das empresas a terem reduções no volume de negócios por causa da pandemia de covid-19 e mais de 70% tiveram impactos superiores a 75%.

Sérgio Guerreiro partilhou na sua comunicação os primeiros sinais animadores de retoma. Nas reservas para o mês de agosto já há níveis de quebras de reservas que são significativamente inferiores aos que temos hoje e estamos a falar de mercados internacionais. Se o mercado interno se comportar bem e se houver permissão de viagens haverá ainda mais sinais animadores como prenuncia um inquérito rápido em que 43% das empresas turísticas estão sem cancelamentos para agosto.

Elementos-chave para a retoma

1 - A capacidade de controlo da pandemia, que tem muito a ver com a confiança do consumidor como da confiança que o setor consegue inspirar. Outra coisa que veio para ficar são as condições dos destinos em matéria de segurança e saúde pública e sanitária. Depois um conjunto de protocolos de viagem que vamos ter de observar, como aconteceu após do 11 de setembro de 2001 e de limitações de uso de espaços.
2 - Capacidade de transporte aéreo, que está a ser severamente afetado pela crise, regressar a um nível normal e a abertura de fronteiras de forma coordenada. As primeiras viagens a arrancar serão as de proximidade, os grupos de jovens dos 18-35 anos, que são os menos vulneráveis à covid-19 também serão os primeiros a viajar e a tendência será para viagens mais curtas.
3 - Comportamento do consumidor sobre o qual há uma grande diversidade de opinião. No primeiro survey que se fez na China, a primeira viagem preferida era a Wuhan, enquanto em Itália, com a abertura, a praça de São Marcos em Veneza voltou a encher. Os dados que existem de procura em alojamento em Portugal mostram que na zona rural está a crescer de uma forma significativa para o verão. Certezas: lazer primeiro do que negócios, turismo ativo e da saúde.


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