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António Vieira Monteiro: "Temos de ter cuidado com os grandes da internet"

António Vieira Monteiro, presidente executivo do Banco Santander, receia mais a Amazon e a Google, por causa do approach ao mercado, do que as fintechs, que inovam

09 de Maio de 2018 às 11:30
António Vieira Monteiro lidera o Santander desde 2012 CM
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António Vieira Monteiro é presidente executivo do banco Santander desde janeiro de 2012. Durante a sua liderança tornou-se o segundo maior banco, atrás da CGD. Diz, porém, que quer consolidar o segundo lugar, "não mais o que isso. Não tenho nenhuma intenção de chegar ao primeiro".

O crescimento tem sido sustentado. Em 2008, o Santander tinha uma quota de mercado de 6% de crédito às empresas e hoje é de cerca de 22%. Desde então, o Santander já cresceu 40 mil milhões em crédito às empresas. Os activos dos bancos Banif e o Popular Portugal (que o Santander comprou) representam cerca de 11 mil milhões de euros. Nos particulares, o aumento desde 2008 é de sete mil milhões de euros.


Temos os melhores ratings da banca portuguesa, o que dá confiança aos clientes.


Actualmente, o Santander tem 55% do crédito a particulares e 44% a empresas, quando a relação anterior era de 80%/20%. António Vieira Monteiro, que tem uma grande experiência bancária, disse que o banco quer continuar a apostar nas empresas, através do crédito, mas também de apoios não financeiros, como programas de estágios de alunos em empresas ou cursos de e-learning promovidos para empresas.

Como é que olha para o sistema financeiro? Considera que já está estabilizado? Acha que o Montepio e o Novo Banco ainda podem ser factores de desestabilização?
Em termos gerais, o trabalho de casa relativamente à estabilização do sistema tem avançado, mas ainda há muita coisa por fazer, ainda há bancos com fortes imparidades, existem problemas relativamente aos custos, e vai haver exigências de capital. Mas entre a situação actual e a do passado já vai uma distância muito grande.

Qual é a agenda de competitividade para as empresas portuguesas?
Um dos aspectos interessantes é que a produtividade das empresas aumentou. Aconteceu uma coisa que raramente tem acontecido, é que a produtividade cresce mais depressa que o aumento dos salários. E isto dá um pouco a ideia da transformação que está a haver.

As empresas continuam com problemas. Têm problemas de capital próprio e precisam de mais capital para desenvolver a sua actividade. Têm problemas de recursos humanos e sobretudo as empresas industriais queixam-se de falta de mão-de-obra especializada. Um empresário dizia-me que a formação que faz, quando contrata um técnico, é de cinco meses, mas, entretanto, nesse período já passaram cinco técnicos.


O Santander faz 55% do seu crédito com particulares e 45% no crédito às empresas. 


Não me parece que o acesso ao crédito seja um problema. Há determinadas empresas que têm problemas de acesso ao crédito, mas tem mais a ver com a sua própria situação e as regras apertadas da análise de risco na concessão de crédito, do que por falta de capacidade creditícia dos bancos. Mas há empresas que mostram um caminho feito de mais produtividade, mais investimento e crescimento nos mercados. Estamos num momento de alteração de todo o tecido industrial.

Vê sinais de mais investimento nomeadamente estrangeiro?
Há mais investimento estrangeiro e não sinto que haja dificuldades adicionais. As que existem são as dificuldades de sempre, como o problema judicial, ou seja, a justiça é muito morosa, mercado de trabalho. Mas estão contentes com os aspectos da qualificação dos técnicos portugueses, como se vê com os investimentos das grandes multinacionais, que se estão a instalar em Portugal com centros de inovação.

O Banco Santander em Portugal também assentou o seu crescimento no crédito à habitação mas entretanto…
Reequilibrou a sua carteira de crédito. Eramos fortes no crédito à habitação e no crédito a particulares. Depois fomos fazendo o reequilíbrio da nossa carteira de crédito com o aumento do crédito às empresas. Ao fazermos isto, estávamos cada vez mais a servir a sociedade e o que esta mais necessitava. Vamos continuar a ter um equilíbrio entre o crédito a particulares e a empresas.

O facto de serem um banco sem problemas na crise financeira facilitou essa viragem?
Fizemos este salto com alguma facilidade por causa da nossa situação de balanço, de rentabilidade, financeira e a nossa imagem nacional e internacional. Temos os melhores ratings da banca portuguesa. O que tem sido muito importante porque dá confiança aos clientes. Por exemplo, há investimento estrangeiro que vem ter connosco só por esta razão, ter os melhores ratings.


O banco passou de 6% de quota de mercado no crédito às empresas em 2008 para 22% em 2017.


O Santander está atento a esta revolução digital com as fintechs…
Estamos a desenvolver o nosso programa digital e é um programa agressivo. Empresas internacionais que analisam a digitalização colocam o Santander no primeiro lugar já com uma pontuação muito próxima da média europeia. Estamos a fazer o nosso trabalho quanto à digitalização. Se é inovação, estamos aqui para aprender.

Quanto à concorrência, olhamos para as fintechs de forma positiva, porque muitas vezes nos estão a ensinar como é que devemos fazer. Não devemos combater nem tentar comprar as fintechs. A sua razão de ser é a inovação.

Ao lado das fintechs estão os grandes da internet como a Google e a Amazon, que são uma outra realidade totalmente diferente. É em relação a estes que temos de ter um outro cuidado, por causa do seu approach ao mercado. Estamos atentos até porque vão entrar em vigor as normas em relação aos dados. Se eles começarem a cobrar, nós também vamos ter de cobrar.

Há uma série de princípios que tem de ser seguidos. Existem questões de regulação. Mas é um desafio que vai obrigar a que os bancos mudem toda a sua forma de desenvolver a sua actividade. Vamos ter uma mudança total em relação ao que os bancos fazem e o que vão ser em termos de futuro.

Conversa solta a sete vozes

A Conversa Solta realizada na cidade do Porto a 19 de Abril no âmbito do Santander Advance foi dedicada aos Novos Negócios na Cidade - Turismo e Alojamento. O debate foi moderado por André Veríssimo, director do Jornal de Negócios e contou com Carlos Santos Lima, Head of retail Small Business do Banco Santander, Miguel Velez, CEO e fundador da Unlock Boutique Hotels, Nuno Camilo, presidente da direcção da Associação dos Comerciantes do Porto, Patrícia Teixeira Lopes, vice-dean da Porto Business School, Ricardo Guimarães, CEO do Confidencial Imobiliário, e Rui Pedro Gonçalves, director executivo da Associação de Turismo do Porto.