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Portugal aproveita taxas baixas para estender prazo da dívida
O IGCP emitiu 3 mil milhões de euros e vai pagar um juro de 1,02% para garantir este financiamento de muito longo prazo. A emissão de 30 anos atraiu os investidores que pediram mais de 40 mil milhões de euros.
A Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública (IGCP) esteve esta quarta-feira no mercado com a primeira emissão sindicada de dívida deste ano, com a colocação de títulos a 30 anos, que ficou marcada por um forte interesse dos investidores.
No arranque da operação, o IGCP colocou a rendibilidade dos títulos nos 88 pontos base acima da taxa swap do euro a 30 anos (0,157%), mas esta baixou depois para 85 pontos base quando foram definidos os termos finais da operação. A elevada procura depois da abertura do livro de ordens provocou uma descida do “spread”, pelo que Portugal acaba por suportar uma taxa de juro de 1,02% para obter financiamento a 30 anos.
Logo aos primeiros dados avançados pela Bloomberg o elevado interesse dos investidores foi registado. No final, as ordens totalizaram mais de 40 mil milhões de euros, o que representou a procura mais elevada de sempre numa emissão de dívida portuguesa. Tendo em conta a elevada procura, o IGCP optou por colocar 3 mil milhões de euros, pelo que a procura ficou mais de 13 vezes acima da oferta. Um rácio bem elevado e que exemplifica o interesse dos investidores por dívida europeia.
Nas duas anteriores emissões a 30 anos a procura foi sempre inferior a 10 mil milhões de euros.
O IGCP emitiu títulos com maturidade em 12 de abril de 2052 (ou seja, mais de 31 anos), aproveitando o atual contexto de taxas de juro em mínimos históricos para se financiar em prazos muito longos. “A maturidade mais longa antes desta emissão era a 24 anos”, refere, numa nota, Filipe Silva, diretor de Investimentos do Banco Carregosa, assinalando que “o ambiente atual de taxas de juro historicamente baixas é muito benéfico para este tipo de emissões e enquanto assim for irá permitir fazer o ‘rollover’ da dívida com um custo significativamente mais baixo”.
O Ministério das Finanças, numa nota às redações, realça também que “Portugal nunca tinha conseguido alcançar condições financeiras tão favoráveis para uma emissão com uma maturidade tão longa, representando uma poupança significativa para o país e para os contribuintes”. João Leão assinala que a “realização de uma emissão com uma maturidade maior permite também alongar a maturidade média da dívida, sem contribuir desfavoravelmente para o aumento de encargos”. Para o titular das Finanças, esta emissão permite “reforçar a qualidade do acesso ao mercado e atrair investidores ‘real money’, como seguradoras e fundos de pensões, habitualmente presentes na parte longa da curva”.
Segundo o IGCP, o grosso da emissão foi colocado em gestores de fundos (40,7%), seguindo-se a banca (32,1%), os fundos de pensões (14,2%), os fundos de cobertura de risco (4,5%), bancos centrais e instituições oficiais (4,3%) e outros (4,2%). Já por geografia, o maior grupo investidor foi o de França, Itália e Espanha, com 37,1% agregadamente, seguidos do Reino Unido (17,6%), Alemanha (14,9%), países nórdicos (9,9%) e Portugal (7,8%). Seguiu-se o resto da Europa (6,7%), América do Norte (3,8%) e outros (2,1%).
Os bancos contratados para tratar da operação foram o Credit Agricole CIB, o Deutsche Bank, o Morgan Stanley, o JP Morgan, o Nomura e o português Novo Banco. Ao contrário do que acontece nos leilões regulares, nas emissões sindicadas os bancos contactam diretamente os investidores para colocar os títulos e ficam também por isso com uma parte da emissão.
A linha de obrigações que Portugal tinha atualmente com maturidade mais longa expira em 2045 (24 anos), sendo que no mercado secundário estes títulos estão hoje com uma “yield” de 0,786%. Esta linha foi lançada numa emissão sindicada em 2015, tendo, na altura, o IGCP aceitado pagar uma taxa de juro acima de 3%.
A emissão a 30 anos desta quarta-feira surge depois de em janeiro Portugal ter conseguido o feito de emitir dívida a 10 anos pela primeira vez com uma taxa negativa. No mercado secundário, os títulos a 10 anos estão atualmente com uma taxa em redor de 0%.
Ministro das Finanças em comunicado