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IGCP testa mercado para abrir 2021 com marco histórico em emissão a 10 anos
Há boas perspetivas de Portugal conseguir financiar-se no mercado a 10 anos com taxas negativas. Será um marco histórico para a dívida portuguesa, que no mercado secundário já alcançou esse feito.
Depois de quase três meses ausente do mercado de dívida de longo prazo, o IGCP marcou para a quarta-feira a primeira emissão de obrigações do Tesouro (OT) de 2021.
O instituto que gere a dívida do Estado português agendou para 13 de janeiro um duplo leilão de títulos de longo prazo, emitindo OT com maturidade em 18 de outubro de 2030 (10 anos) e 12 de outubro de 2035 (15 anos). O objetivo passa por encaixar entre 1.000 e 1.250 milhões de euros.
Esta será a primeira emissão desde que em outubro o IGCP colocou dívida a oito anos, tendo pela primeira vez conseguido financiar-se nesta maturidade com taxas negativas.
Depois disso a taxa de juro no mercado secundário também atingiu valores negativos no prazo de referência a 10 anos, um marco histórico para a dívida portuguesa, que tem beneficiado fortemente com o apetite dos investidores por dívida soberana devido à política monetária ultraexpansionista do Banco Central Europeu, que deverá permanecer em 2021.
Esta emissão poderá assim ficar marcada pela primeira operação no mercado primário em que Portugal consegue taxas negativas para colocar dívida a 10 anos. Dito por outras palavras, poderá ser a primeira vez que os investidores aceitam pagar para emprestar dinheiro a Portugal no prazo de 10 anos.
No mercado secundário há já várias semanas que isso acontece, mas trata-se de operações entre investidores e em que o Tesouro português não é diretamente beneficiado. Acontece que as taxas de juro das emissões do IGCP (mercado primário) têm saído em linha com as praticadas no mercado secundário, pelo que a próxima quarta-feira poderá ser mais um dia histórico para a dívida portuguesa.
Esta sexta-feira, a yield das obrigações do Tesouro a 10 anos está em -0,03%, sendo que o mínimo histórico foi atingido o ano passado em -0,062%. Os títulos com maturidade a 15 anos está em 0,31%.
Na emissão realizada em outubro o IGCP colocou 654 milhões de euros em obrigações do Tesouro com maturidade em outubro de 2028 (oito anos) com uma "yield" de -0,085%.
Em setembro de 2020 o IGCP arrecadou 1.211 milhões de euros na emissão de títulos a 10 anos, com uma taxa de 0,329%, o que representa o segundo custo de financiamento mais baixo de sempre nesta maturidade.
Também em setembro, mas de 2019, o IGCP financiou-se ao custo mais baixo de sempre a 10 anos, colocando obrigações com uma yield de 0,264%.
Mesmo que a taxa dos títulos a colocar quarta-feira não seja negativa, é quase certo que Portugal conseguirá o custo de financiamento mais baixo a 10 anos.
Ao optar por avançar com um leilão ordinário de obrigações esta quarta-feia, o IGCP abandona a prática corrente de arrancar o ano com uma emissão de dívida sindicada. Operações onde habitualmente coloca montantes mais elevados de dívida e abre novas linhas de obrigações.
O IGCP divulgou na quinta-feira o plano de financiamento para 2021, onde prevê emitir 15 mil milhões de euros em obrigações do Tesouro.