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2020: o ano em que os investidores começaram a pagar para comprar dívida de Portugal

As taxas de Portugal voltaram a fixar níveis nunca vistos, em 2020. Depois da descida vertiginosa em 2019, neste ano que agora termina, os juros lusos negociaram pela primeira vez com um sinal de menos.

Portugal emitiu certificados ao retalho que tinham indexado parte dos juros ao crescimento do PIB.
Pedro Nunes/Reuters
02 de Janeiro de 2021 às 15:00
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2020 foi mais um ano histórico para as obrigações soberanas do euro. E a dívida portuguesa voltou a destacar-se. Depois de, em 2019, os juros de Portugal terem fixado novos mínimos históricos e terem passado a negociar abaixo das "yields" espanholas, as taxas implícitas lusas juntaram-se ao clube dos países em que os investidores estão dispostos a pagar para deter a sua dívida em carteira.

 

A "yield" a 10 anos de Portugal vai entrar em 2021 e negociar em valores praticamente nulos. A taxa de referência encerrou o ano a negociar nos 0,022%, quando no início do ano estava em 0,412%, tendo mesmo negociado pela primeira vez na sua história em valores negativos nas últimas semanas do ano.

 

A taxa de referência estreou-se em níveis negativos no dia 26 de novembro, ao baixar para -0,01%, valores que voltou a quebrar ao longo de dezembro, tendo fixado um mínimo histórico nos -0,059% em meados de dezembro. Todas as outras maturidades mais curtas, até sete anos apresentam igualmente juros negativos, um movimento suportado pelos sucessivos reforços da bazuca do Banco Central Europeu (BCE).

 

Depois de a ação do BCE não ter conseguido tranquilizar os investidores na reunião ordinária de março, com a presidente do banco central a assegurar que não cabia à entidade garantir "spreads" baixos – declarações que aceleraram uma escalada dos juros da periferia – Christine Lagarde viu-se forçada a corrigir-se e, numa reunião de emergência realizada a 18 de março, lançou programa do BCE – "Pandemic Emergency Purchase Programme" (PEPP) – prevê o investimento de 750 mil milhões de euros na compra de ativos, um montante que se juntou ao plano de 120 mil milhões anunciado na reunião ordinária da entidade que havia decorrido apenas uma semana antes e aos reinvestimentos.

Já este mês de dezembro, Lagarde voltou a lançar mão à bazuca, ao reforçar o programa de compra de ativos por emergência pandémica em 500 mil milhões de euros.

 

Para Filipe Silva, diretor de investimentos do Banco Carregosa, enquanto o BCE continuar no mercado a comprar dívida e não houver um sinal de inversão da sua política, os juros do país e das obrigações soberanas do euro deverão permanecer suportadas.

 

Também Filipe Garcia, economista da IMF, reconhece que "os juros estão, neste momento, negativos até à maturidade de 10 anos, reflexo da política monetária do BCE. Portanto, a chave para a evolução em 2021 estará também na política monetária e, logicamente, partido do pressuposto que continua a haver alinhamento dentro do Banco Central e da UE com Portugal", remata.

 

Periferia lidera contração

 

À semelhança do que aconteceu com Portugal, também os restantes países europeus seguiram este movimento descente dos juros. A taxa espanhola fecha 2020 a negociar em 0,04%, enquanto a dívida transalpina a 10 anos apresenta uma "yield" de 0,539%.

 

No caso da Alemanha, as "bunds" fecharam o ano a negociar perto de -0,6%, enquanto a dívida holandesa segue próxima de -0,5% e a França apresenta uma taxa negativa de 0,3%.

 

Num ano marcado pela grande instabilidade e incerteza causada pela covid-19, as obrigações soberanas revelaram-se um dos ativos mais lucrativos. "Do ponto de vista de valorização como ativo, (a dívida portuguesa) foi vencedora, mas o mesmo se poderá dizer da generalidade da dívida pública", aponta Filipa Garcia.

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