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Boicote da Pimco e da BlackRock a Portugal perde impacto

O confronto da BlackRock e da Pimco com Portugal, relacionado com a imposição de uma perda de 2 mil milhões de euros, fez com que estas gestoras de activos perdessem fortes retornos que estão a ser aproveitados por outros.

11 de Janeiro de 2018 às 17:25
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O crescimento económico de Portugal quase triplicou desde 2014 e as suas obrigações estão a registar o "rally" mais forte este século, com as "yields" da dívida soberana a descerem para níveis inferiores aos de Itália pela primeira vez em sete anos. A emissão de 4 mil milhões de euros em obrigações na quarta-feira, a primeira desde que a Fitch recolocou o "rating" do país no grau de investimento, atraiu ordens de mais de 19 mil milhões de euros.

 

A BlackRock e a Pimco não participaram nesta recuperação. Lideram um grupo de investidores que boicota a dívida portuguesa desde que há dois anos sofreram perdas com as obrigações no âmbito do resgate do BES.

 

Em causa está a retransmissão de dívida sénior do Novo Banco para o BES "mau" a 29 de Dezembro de 2015. Na resolução de 3 de Agosto de 2014, a dívida sénior passou para o Novo Banco, mas mais de um ano após a resolução, o Banco de Portugal decidiu enviar cinco linhas de obrigações seniores para o BES "mau", avaliadas em torno de 2 mil milhões de euros, por considerá-las ligadas ao Goldman Sachs, que tinha sido accionista do banco. Desde aí, estas entidades têm vindo a combater, até judicialmente, a decisão da autoridade presidida por Carlos Costa.

 

Este grupo de investidores (Attestor Capital, BlackRock, CQS, Pimco, River Birch Capital e York Capital) gere activos no valor de 7 biliões de dólares, que correspondem a cerca de 30 vezes a dimensão da economia portuguesa. Mas a influência deste boicote tem-se revelado limitada, num mercado alimentado pelo programa de compra de activos do Banco Central Europeu, que acumulou 30 mil milhões de euros em obrigações lusas.

 

"A não participação destes fundos tem um efeito, mas não representam todo o mercado", diz Carlos Suarez Duarte, analista do Allianz Global Investor em Londres. As obrigações portuguesas "oferecem uma história atractiva pois são de um país em recuperação que está a ir na direcção certa".

 

Mas outros investidores estão satisfeitos em participar no "rally" da dívida portuguesa, incluindo a Allianz GI, cuja casa-mãe também controla a Pimco. A Allianz GI tem comprado obrigações do Tesouro e adquiriu dívida subordinada da Caixa Geral de Depósitos emitida em Março. Apesar de o banco público ter pago o juro mais elevado de sempre por este tipo de dívida, a aposta mostrou-se certeira, com os títulos a transaccionarem actualmente bem acima do valor nominal e com uma "yield" de 6%.

 

Mas nem sempre Portugal conseguiu escapar tão facilmente ao impacto de uma "greve" de investidores.

 

Na audição no Parlamento esta quarta-feira, o ministro das Finanças Mário Centeno revelou que a decisão de impor perdas aos detentores de obrigações resultou em "centenas de milhões de euros" em custos de financiamento adicionais em 2016 e "uma boa parte" de 2017. Citando a procura registada no leilão de ontem, Centeno diz que o impacto negativo já acabou.

 

Desde que em Março este grupo de investidores avisou que Portugal iria continuar a "sofrer as consequências" da decisão tomada com as obrigações do BES, a "yield" das obrigações do Tesouro a 10 anos desceram de 4% para 1,8%. No mês passado Mário Centeno foi nomeado presidente do Eurogrupo, com o ministro das Finanças da Alemanha a destacar que Portugal conseguiu resolver os seus problemas.

 

Depois da eleição de Centeno, o grupo de investidores liderado pela Pimco e BlackRock escreveu ao ministro português a pedir que "emendasse os erros do passado" para restaurar a credibilidade de Portugal.      

 

As negociações entre Portugal e estes investidores estão paradas desde Setembro. O Novo Banco, o Ministério das Finanças e o Banco de Portugal recusaram comentar a notícia à Bloomberg.

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