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Petróleo não saiu do vermelho. Gás natural recuperou em 2024
Os preços do crude registaram, em 2024, o segundo ano consecutivo de queda - e em 2025 o cenário não parece, de um modo geral, promissor para quem investe nesta matéria-prima, embora haja quem tenha perspetivas positivas. Já o gás natural, que teve o melhor desempenho nos mercados em 2024, deverá continuar em alta.
O ano de 2024 ficou marcado por muitos altos e baixos no petróleo. A matéria-prima viveu momentos de grande incerteza, muito à conta das tensões geopolíticas e da procura chinesa mais fraca do que o esperado.
Além do conflito Rússia-Ucrânia, que está a caminho dos três anos, o Médio Oriente foi igualmente palco de um agravar de tensões. As várias frentes de conflito com Israel – depois do Hamas na Faixa de Gaza e dos houthis do Iémen, deu-se uma escalada de fricções com o Líbano, Síria e Irão – fizeram crescer os receios de uma ofensiva mais alargada na região, onde há grandes produtores de crude.
Por outro lado, a China continuou a registar um crescimento pálido, apesar dos vários estímulos lançados, levando a uma diminuição das compras de crude – e atendendo a que é o maior importador mundial, esta redução teve efeitos negativos nos preços.
A fazer crescer o clima de incerteza esteve ainda a vitória de Donald Trump nas presidenciais norte-americanas de 5 de novembro, já que o republicano é apologista de uma maior extração de crude (o "drill, baby, drill" está de volta) – mas a forma como irá gerir essas pretensões é uma incógnita.
Resultado: na categoria da energia, o petróleo teve saldo negativo em 2024. O West Texas Intermediate (WTI), "benchmark" para os Estados Unidos, teve uma queda acumulada ligeira, de apenas 0,71%, mas em Londres o recuo foi maior: o Brent do Mar do Norte, que serve de referência a Portugal, desvalorizou 3,1% no ano.
Nas suas estimativas para 2025, muitos analistas apontam para a possibilidade de o ouro negro voltar a ter um ano negativo – embora haja também quem anteveja subidas, como é o caso do UBS.
Já quanto ao gás natural – que, segundo a tabela periódica das 15 "commodities" analisadas pela US Global Investors, foi a matéria-prima que mais valorizou em 2024 –, a projeção geral é de um novo ano em alta.
"2024 foi um ano misto para os investidores em energia, com perdas no crude e produtos refinados e ganhos no carvão térmico e no gás natural. Para 2025 temos uma perspetiva moderadamente positiva para o crude e gás natural, e negativa para o carvão térmico", sublinha Giovanni Staunovo, analista de matérias-primas do UBS, num "research" a que o Negócios teve acesso.
Segundo o estratega do banco suíço, "o crude deverá beneficiar da gestão da oferta feita pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo e seus aliados (OPEP+), do crescente posicionamento especulativo e dos baixos inventários desta matéria-prima. Já o gás natural, mais especificamente o dos Estados Unidos, deverá beneficiar do aumento das exportações".
No que diz respeito à OPEP+, os olhares vão continuar focados nas suas decisões. Em 2024, os seus membros tentaram conter uma maior queda dos preços e as estimativas dizem que o Brent teria negociado num valor médio abaixo de 70 dólares por barril – e não nos 80 dólares verificados – se o cartel tivesse decidido começar a abrir as suas torneiras.
Atualmente, a OPEP+ (que reúne 22 países) tem em vigor dois acordos de retirada de crude do mercado, que ascendem no total a 5,85 milhões de barris diários – e que correspondem a 5,7% da procura mundial. Um dos acordos, em vigor desde novembro de 2023, implica um corte de produção voluntário, de 2,2 milhões de barris por dia, por parte de oito países (Arábia Saudita, Rússia, Iraque, Emirados Árabes Unidos, Koweit, Cazaquistão, Argélia e Omã) e era esse crude que se pretendia que começasse a ser libertado faseadamente entre outubro de 2024 e setembro de 2025 – o que não aconteceu.
Os baixos preços do crude ditaram três adiamentos da abertura de torneiras e está agora previsto que essa retirada progressiva comece apenas no segundo trimestre deste ano. E será ainda mais gradual do que se pretendia inicialmente: em vez de se estender ao longo de um ano, deverá decorrer num período de 18 meses, entre abril de 2025 e setembro de 2026. Resta agora esperar para ver como irão as cotações do crude evoluir no primeiro trimestre para perceber se a OPEP+ decide mesmo avançar em abril com uma maior entrada de petróleo no mercado. Se as cotações continuarem débeis, os seus membros poderão, uma vez mais, adiar esse passo.
A influência deste grupo no mercado petrolífero continua, assim, a ter um grande peso. Não é à toa que o cartel é conhecido como banco central do petróleo e até Trump já lhes dirigiu umas palavras desde que tomou posse. A 23 de janeiro, num discurso proferido por videoconferência aos participantes do Fórum Económico Mundial, em Davos, o Presidente dos EUA instou a OPEP+ a fazer baixar o custo do crude. Mas a organização tem um equilíbrio difícil de gerir: se continuar a vender menos, terá menos receitas e outros produtores de fora podem ir aproveitando a quota de mercado livre (como tem acontecido com os próprios Estados Unidos, Canadá, Brasil e Guiana); se começar a vender mais e a oferta superar a procura, os preços podem descer para níveis não considerados rentáveis para explorar esta matéria-prima.
No que toca ao gás natural, não são apenas os preços nos Estados Unidos que deverão subir. Os futuros dos contratos do gás TTF, que é o "benchmark" para os mercados europeus e é negociado em Amesterdão, apontam para que os preços deste recurso energético subam 50% este ano, face a 2024, ficando em níveis duas vezes superiores aos que se registavam antes da guerra na Ucrânia, sublinha a Coface. Os "stocks" de gás natural na Europa têm estado a diminuir mais depressa do que o esperado, devido às temperaturas mais frias, a uma menor produção de energia renovável e ao fim da passagem de gás russo pela Ucrânia.